Corrida de São Silvestre volta à agenda dos atletas – Estudos indicam que treinamento dos pés diminui em duas vezes e meia a incidência de lesões

Corrida de São Silvestre volta à agenda dos atletas – Estudos indicam que treinamento dos pés diminui em duas vezes e meia a incidência de lesões

Artigo publicado por especialistas da USP reforça a informação de que a vida contemporânea está debilitando o uso dos pés. Dados da pesquisa reafirmam o quanto a caminhada como atividade aeróbica pode ser importante aliada no condicionamento físico, na reabilitação e na prevenção de doenças crônicas (não transmissíveis). O livro Força Dinâmica – postura em movimento (Summus Editorial) trata desse mecanismo e traz exercícios para melhorar a musculatura.

Originalmente publicado pela Agência FAPESP, o estudo ressalta que a vida urbana e as adaptações tecnológicas de calçados têm limitado o uso dos pés como complexa estrutura anatômica e um dos sistemas de amortecimento mais importantes do corpo. Essa condição e o fato de as pessoas evitarem andar descalças comprometem o ato de pisar como uma das principais funções de sustentação.

Segundo apuram os pesquisadores, um treinamento simples para os pés reduz em duas vezes e meia o risco de lesões em corredores recreacionais. Tanto novos esportistas adeptos da corrida como atividade física quanto pessoas comuns sofrem com lesões que podem ser evitadas. Apesar da corrida ser uma tendência saudável, a pesquisa alerta que até 79% dos corredores podem sofrer alguma lesão em um ano.

“As estruturas todas dos pés acabam se atrofiando com o uso reiterado desse tipo de calçado. É como se alguém passasse a utilizar diariamente um colar cervical para prevenir o pescoço de dores devido ao uso contínuo de telas. Em pouco tempo, a musculatura do pescoço perderia massa, força e funcionalidade”, afirma a pesquisadora Isabel de Camargo Neves Sacco, coordenadora do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em entrevista publicada na Agência FAPESP.

Em 2007, baseados em conceitos como esses, o fisioterapeuta e doutor em ciências Marcelo Semiatzh e o mestre em esportes Alexandre Blass criaram o método Força Dinâmica. Com o bom desempenho e resultados obtidos, eles publicaram, em 2014, o livro Força Dinâmica – Postura em movimento (Summus Editorial – 168 p., R$ 84,60). Segundo eles, o corpo está constantemente sujeito à ação de forças de diversas naturezas. Enquanto a massa corporal reage à gravidade que nos atrai para o centro da Terra, os músculos empregam a energia vital neles depositada para se locomover pelo espaço. A anatomia, portanto, organiza-se numa interação com a força da gravidade agindo sobre a massa das partes do corpo, contra a qual ocorre a reação, bem como com a aceleração dos segmentos corporais que acontece nos deslocamentos. O método atua especialmente na reabilitação e prevenção de lesões em corredores com exercícios “de baixo para cima” (bottom-up) priorizando o ganho de força na extremidade mais distal dos membros inferiores.

“Ao agirem sobre o nosso corpo e tendo como referência o solo, durante um movimento os vetores de força percorrem um trajeto que pode se estender do contato do pé com o chão até a cabeça, passando pelas mãos e por outras partes. O trabalho da força dinâmica fundamenta-se justamente nesse fluxo ininterrupto, nessa correlação orgânica de forças sobre o corpo humano em movimento e como organizamos nossos ossos.  Olhamos o corpo de baixo para cima e, baseado nesse olhar, nos diversos componentes de força em cada momento exigido no deslocamento humano, criamos diversos exercícios que estão disponíveis no livro”, afirma Semiatzh.

“É ‘natural’ que o pé receba o peso do corpo, mas a força, o tonus do pé é desenvolvido com o uso, é treinado. Com o uso, cada vez mais empobrecido, a força do pé e a capacidade de resposta, passa ser cada vez menor, são necessários estímulos induzidos, treinamento, para que se possa responder melhor ao próprio peso corporal. Essa resposta começa na interação do pé com o chão, quando a força vai percorrendo e subindo para outras partes do corpo. Por outro lado, quando pensamos em atletas, há um uso excessivo dessas estruturas e, portanto, a necessidade de trabalhá-las”, complementa Blass.

Vários aspectos são beneficiados pelo método força dinâmica

Partindo da recomendação mais comum, a ortopédica, o treino adequado para os pés é um diferencial importantíssimo, cujos reflexos podem ser sentidos nos quadris, nos joelhos, ao evitar queda pélvica, comprometimento do sistema valgo-dinâmico e em outros efeitos que a falta de atividade desabilitou. Como avalia o ortopedista Dr. Henrique Haidar Jorge, “o método da Força Dinâmica é original, menos no sentido inventivo do termo e mais na volta a origem mesmo: estar bípede exige uma física própria, é preciso levar a força no lugar certo, toda ação tem sua reação, a área é inversamente proporcional a força, as abóbodas distribuem carga e não dependem de um ponto fixo de alicerce.”

Segundo Haidar Jorge, “nos esquecemos de quão importante é fazer esse jogo de equilíbrio: que é ficar em pé. Afinal, estamos demasiadamente (e principalmente pós-pandemia) sentados. Ativar o tibial posterior, elevar o arco longitudinal do pé, transferir a carga pela borda lateral, criam uma engenhoca que permitem o alinhamento femoral, a estabilidade pélvica, a dissipação e não concentração de carga sobre tecidos frágeis e não renováveis numa vida que insiste em prolongar-se”. Ele complementa: “Falamos muito da atrofia muscular e do sedentarismo, e nos tornamos reféns de hipertrofias estéticas, e falamos pouco de como manter a musculatura na ativação cotidiana.”

Um exemplo da efetividade do método é o treinamento de atletas de alto rendimento. O preparador físico Miguel Sarkis atribui ao sistema da Força Dinâmica todo o sucesso do desempenho de Vagner Silva Noronha, representante brasileiro nas principais disputas internacionais. “Para todos os seres, enquanto em pé, andando ou correndo, os pés são as partes dos membros locomotores mais importantes. É a partir deles que um atleta chega a grandes resultados. Nosso trabalho junto a equipe profissional da Força Dinâmica iniciou a partir de uma pequena lesão na perna do atleta Vagner da Silva Noronha, e que, após cuidados fisioterápicos precisos, passou a ser orientado para usar melhor os pés , proporcionando a melhora no uso das pernas, braços e tronco, ao ganho na velocidade e manutenção de velocidade na corrida. Como a principal prova do atleta é a maratona, os ganhos foram aumentando a cada treino e provas pelas quais passou”, afirma o treinador.

Outro aspecto relevante envolvido no processo é o nutricional. “Recebo muitos praticantes de atividade física recreacional em meu consultório e uma queixa comum é a quantidade elevada de lesões, principalmente em corredores. O aporte nutricional adequado tem um papel fundamental, mas vejo a diferença entre os corredores que estão com acompanhamento na Força Dinâmica e os que não estão. O trabalho de consciência corporal, aliado a construção de uma base aeróbia, junto com uma prescrição dietética correta faz com que não só a recuperação seja mais adequada, mas o risco de novas lesões diminua muito”, relata Rodolfo Camargo, nutricionista pela USP e com experiência na área de bioquímica e nutrição clínica, atua principalmente nos temas nutrição aplicada ao emagrecimento e desempenho esportivo, Caquexia, Câncer, Inflamação e micro RNAs.

Depoimentos de personagens:

“Minha experiência e as mudanças que tive com o trabalho da “Força Dinâmica” foram importantíssimas e fundamentais para minha carreira profissional. São anos de participação no cenário das corridas de rua e sem lesão. Minha performance como atleta de alto nível sempre exigiu cuidado, dedicação e profissionalismo no trato com o corpo e mudanças significativas e importantes no meu gesto motor facilitando minha corrida.

Um trabalho realizado com muito profissionalismo e conhecimento, pelo fisioterapeuta Marcelo Semiatzh, um dos mentores desse estudo maravilhoso que só veio colaborar para meu sucesso no esporte e na vida, ou seja, até hoje uso a metodologia aplicada tanto nos meus treinos diários como para meus alunos que buscam melhorar a forma física. Aprendi a ter um olhar clínico sobre os movimentos realizados tanto no andar quanto na corrida e isso facilita meu trabalho na melhoria e na qualidade dos exercícios aplicados aos alunos” – Conceição Oliveira, maratonista, atleta com uma carreira longeva há 18 anos em atividade, sem interrupções dos treinos por lesões.

“O repouso precede o movimento.” O chão é a superfície firme e os pés os membros que se apoiam recebendo essa sustentação. Esta lei da física é celebrada cada vez que um praticante de yoga, bailarino ou “movedor”, percebe e incorpora esta relação. Quando estabelecida através de treinamentos, essa função torna-se altamente benéfica para a preservação e saúde de articulações e respiração e funções vitais em geral.

A abordagem precisa que o método Força Dinâmica oferece sobre o tema, além de curativa e preventiva é inspiradora da consciência humana como seres terrestres que se deslocam sobre a superfície do planeta desde a pré-história – e isso desde sempre se deu através deste movimento tão específico que é a marcha bipedal. No meu caso, absorvi do método tanto no nível pessoal – o hábito de caminhar, quanto na maneira de abordar as posturas de yoga que ensino no meu método de yoga e arte (Método DOM). Em ambas as experiências houve muito aprendizado sobre os vetores de força que atravessam o corpo partindo dos pés até atingirem a cabeça, gerando posturas harmoniosa e saudável” – Lu Brites, Yoguini, professora de yoga, bailarina, atriz, coreógrafa, preparadora corporal, diretora de movimento e empreendedora, fundadora da DOM Yoga & Arte School.

Fontes recomendadas:

Alexandre Blass

Mestre em Esporte de Alto Rendimento pela Universidade do Porto (Portugal), é formado em Esporte pela Universidade de São Paulo (USP). Sócio Proprietário e criador do método de força dinâmica.

Marcelo Semiatzh

Doutor em Ciências da saúde pela Universidade de São Paulo (USP), fisioterapeuta formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Sócio Proprietário e criador do método de força dinâmica.

Miguel Sarkis – Graduado pela Faculdade de Educação Física de Santo André, Técnico em Atletismo pela Faculdade de Educação Física de Santo André; Treinador de Atletismo credenciado IAAF (International Association Of Athletics Federations,); Curso Especialização em Obesidade, Cardiopatia e Idosos, para a qualidade de Vida (USP); Personal Trainer desde 1978; Corredor desde 1975 (até o ano de 2009, 40 maratonas realizadas/15 delas menos de 2h40m); Certificação Internacional Treinador de Força para o Esporte ISCI (International Strenth & Conditioning Institute; Palestrante do SESC; Feira da Corrida em São Paulo Ibirapuera; Acompanhamento de atletas amadores e da elite em maratonas de Buenos Aires, Mar dell Plata, New York, Boston, Paris, Roterdã, Berlin, Praga.

Henrique Haidar Jorge: Ortopedista pela FMUSP com especialização em cirurgia coluna vertebral HC-IOT-FMUSP, Chefe grupo coluna Puccamp, chefe retaguarda cirurgia coluna HSL.

Rodolfo Camargo: Doutor pelo laboratório de metabolismo de lipídeos do Instituto de Ciências Biomédicas da USP em um programa Cotutela com a Universidade de Potsdam (Alemanha) no instituto de bioquímica dos alimentos, com estágio de aperfeiçoamento na Universidade Texas A&M (Estados Unidos) no centro de estudos da nutrição para envelhecimento e longevidade. Mestre pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio de aperfeiçoamento na Universidade de Potsdam (Alemanha). Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Estadual Paulista, UNESP e em Nutrição pela faculdade HOTEC.

Referências:

Projeto temático

Biomecânica e aspectos funcionais do sistema musculoesquelético de corredores: efeito crônico de exercícios terapêuticos e do envelhecimento

https://agencia.fapesp.br/treinamento-para-os-pes-reduz-em-duas-vezes-e-meia-o-risco-de-lesao-em-corrida/36524/#.YREiqF9_Geg.whatsapp

Artigo Sage Journal

Foot Core Training to Prevent Running-Related Injuries: A Survival Analysis of a Single-Blind, Randomized Controlled Trial

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