Pandemia revelou novas áreas de atuação
O Brasil ultrapassou o número de 1 milhão de profissionais e é o primeiro país no ranking de saturamento profissional. Numa tentativa de driblar a crise e ampliar a área de atuação, inúmeros advogados vêm investindo no empreendedorismo e na atuação em áreas como direito digital e a atuação em corporações como compliance.
Em busca de ampliar sua renda e abrir novas frentes de atuação profissional, o advogado Leandro Lima Silva, 36, investiu há pouco mais de dois mês em uma franquia da Mister Multas, especializada em recursos de trânsito. Agora, além da sua cartela de clientes fiéis, o empresário também atrai os olhares de quem possui problemas na carteira de habilitação e necessita de consultoria especializada, no município de Mucuri, no extremo sul da Bahia (903 km de distância de Salvador).
“Antes mesmo de prestar Direito, sempre tive vontade de ter uma franquia. Na Mister Multas, encontrei boas taxas e um bom suporte para os meus fins. Além disso, empreender nesta área complementou os serviços que posso prestar aos meus clientes. Agora, além de todo o suporte jurídico, assumo demandas de trânsito e dou consultoria”, explica Leandro.
Renovação
A presidente do Conselho Consultivo da Jovem Advocacia (CCJA) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA) Sarah Barros afirma que as mudanças ocorridas em 2020, por conta da pandemia, terminaram por abrir e renovar o mercado.
“Agora lidaremos com um direito pós-pandêmico, acredito que as áreas de direito tributário, direito imobiliário, direito do consumidor e direito das famílias continuam como áreas com muitas demandas e continuamos com nichos novos que trazem um novo mercado de direito, direito da saúde com enfoque na telemedicina, direito digital, LGPD, dados”, defende.
Contrária a ideia de um mercado saturado, a representante da OAB acredita que, sendo um porta-voz, o advogado e sua atuação evoluirá junto com a sociedade. “Houve comentários de que a advocacia trabalhista de que iria acabar. O que vimos foi muita demanda nessa área, diversas medidas provisórias, instruções e resoluções sobre contratos de trabalho. O direito empresarial, que poucos profissionais gostam de estudar na faculdade, possui poucos especialistas atuando e o que vimos foi quantidade enorme de empresas que precisaram abrir falência e precisaram destes especialistas”, analisa.
Empresário e sócio em um escritório de advocacia, Breno Novelli concorda que o Direito vem se adequando às transformações sociais e lembra que, embora haja mercado em áreas tradicionais como o direito trabalhista, não se pode esquecer do direito empresarial e daquelas atuações em nichos, voltadas para públicos específicos, a exemplo de escritórios que atendem exclusivamente ao público feminino e LGBTQ+.
Breno Novelli lembra a atuação de advogados com públicos específicos e salienta que as faculdades precisam reformular suas matrizes curriculares (Foto: Divulgação) |
“A docência (tanto em graduação quanto em cursos de pós-graduação) também é um ramo de atuação importante e, claro, digno de aplauso pelo seu contexto social e de formação. Por fim, ainda que não se trate de algo novo, há advogados, notadamente aqueles de grande reputação, que atuam exclusivamente como pareceristas”, afirma.
Cultura empreendedora
Se por um lado, surgiram novas demandas de atuação profissional, por outro, muitos profissionais do direito perceberam que o exercício profissional vai muito além do direito material e passou a exigir habilidades como gerir um escritório, produzir conteúdo, ser autoridade em alguma área, conhecer sobre marketing jurídico digital.
O diretor e sócio de um escritório de advocacia André Torres diz que a atitude empreendedora permeia a maioria das atividades humanas e econômicas no século XXI, entendendo a atitude em sua amplitude e profundidade, desde crenças, valores e, especialmente, nas ações do dia a dia. “Entendo que atitude empreendedora como a única maneira de um profissional prosperar neste século e, em especial, na advocacia, seja em escritórios ou demais áreas de atuação de características privadas, empresas, ONGs, associações, cooperativas, projetos com prazos determinados”, diz.https://79647b651abeb5ced9d38dadf3d3f2e8.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Na opinião de Torres, a cultura do empreendedorismo precisa vir acompanhada de um conhecimento interdisciplinar. “Feito isto, o profissional, ao invés de atuar de forma restrita no mundo das leis e processos apontando apenas problemas e conflitos, deverá buscar soluções práticas, rápidas e ao menor custo para o cliente, projeto e sociedade. O que é diferente de buscar encontrar barreiras legais e entrar em litígios custosos e que se arrastam por anos quando poderiam ser evitados”, defende.
Os advogados também criticam a formação acadêmica atual que, segundo eles, ainda se prendem aos modelos antigos. “Precisamos desde cedo e, lógico, nas faculdades, tratar de assuntos concretos de nossa realidade e sermos desafiados, desafiar os jovens, os alunos a encontrar a cada dia soluções criativas e inovadoras para as dificuldades que se apresentam”, finaliza Torres.
6 Passos para empreender
1. Antes de começar, faça uma auto análise. Liste gostos, habilidades, competências, motivações. Veja como tudo isso se encaixa no seu momento atual. Não tenha pressa.
2. Planejar é o primeiro passo para o sucesso. Por isso mesmo, investigue e estude sobre as suas preferências e habilidades e como isso pode se transformar em um negócio.
3. Procure auxílio para começar. Sebrae e OAB podem ser de grande ajuda nessa hora.
4. Busque outros profissionais que também empreenderam e conheça os desafios e as superações. Tire dúvidas.
5. Transforme a tecnologia em aliada com aplicativos e todos os conhecimentos disponibilizados na Internet. (www.projuris.com.br/ radarsebrae.com.br/)
6. Não tenha medo de começar.
Fonte: www.correio24horas.com.br