Reinaldo Polito
Jovem Pan
Uma das maiores preocupações de quem fala em público é a de não ter assunto para chegar até o final do tempo determinado. Imagine que seja convidado para falar em um evento em que vários oradores tenham de se apresentar. O programa indica que a sua participação será de 50 minutos.
Sem problema. Afinal, 50 minutos é a duração de uma aula. A vida toda você viu professores entrando e saindo para ministrar aulas dentro desse tempo. E, pelo que se lembra, nenhum teve dificuldade para cumprir bem sua tarefa. Normal!
Como o tema é do seu conhecimento, supõe que uma rápida lida nos tópicos que pretende desenvolver será suficiente. Para garantir o sucesso da sua participação, elabora um roteiro com os dez pontos sobre os quais irá discorrer. Boa decisão, pois se, por acaso, a memória falhar, uma rápida olhada no recurso de apoio o colocará novamente na sequência planejada.
Diante da plateia, entretanto, você descobre que o seu desempenho não é o esperado. Já cumpriu metade dos itens programados e não consumiu nem 20 minutos. Tenta disfarçar, enrolar, repetir, mas esses artifícios não passam de dois ou três minutos.
Opa, uma ideia brilhante. Resolve pedir aos ouvintes que façam perguntas. Depois de insistir três ou quatro vezes, conclui que ninguém está interessado em participar. Olha para o relógio e tem a impressão de que parou de funcionar, já que os ponteiros não saem do lugar.
Sem ter mais o que fazer, decide ir em frente. Já está na última linha da relação e só falou por 30 minutos. Como encontrar assunto para mais 20 minutos? Dá uma olhada no verso da folha na esperança de que teria colocado ali mais algumas observações, mas olha só por olhar, pois sabe que não há nenhuma informação adicional.
Resignado, para surpresa de todos, especialmente do responsável pelo evento, agradece a atenção do público e encerra. A pessoa que o convidou avisa que teria ainda um bom tempo para discorrer a respeito do tema. Diante da sua recusa, e tendo em vista que o próximo palestrante ainda não está presente, como última alternativa, o anfitrião propõe um intervalo para preparar os recursos que serão utilizados pelo orador seguinte.
Essa história hipotética não está descolada da realidade. Esses fatos ocorrem com mais frequência do que se imagina. Às vezes, o profissional acostumado a falar nas reuniões da empresa, onde há interação ativa dos outros participantes, e, geralmente, sem tempo estipulado, é levado a acreditar que no palco, diante da plateia, o quadro será semelhante.
Como podemos nos livrar dessas situações constrangedoras? Será que existe uma saída para circunstâncias tão desafiadoras?
Em primeiro lugar, devemos nos transformar em colecionadores de histórias. De preferência de casos relacionados à vida corporativa. E não precisam ser só exemplos próprios, pessoais. Os fatos narrados por outros profissionais também servem.
Histórias associadas aos projetos que tenha desenvolvido ou participado da elaboração, produtos que tenha lançado, concorrências que tenha vencido, planos bem-sucedidos ou não que tenha vivenciado. Ao garimpar esses episódios, descobrirá que em pouco tempo já terá de 15 a 20 bons exemplos no seu estoque.
Outra solução interessante é usar recursos que permitam abordar o tema por diferentes aspectos. Os mais recomendados são a divisão no tempo, no espaço e as comparações.
Se você estiver falando sobre tecnologia, por exemplo, sem muito esforço poderá fazer um histórico recordando as diversas etapas do desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo. Uma rápida pesquisa será suficiente para indicar os momentos em que a tecnologia sofreu transformações mais acentuadas. Ao identificar esses pontos, poderá mencionar as circunstâncias que os cercam. Não será difícil saber quais os profissionais que deram maior contribuição em cada uma dessas fases, as organizações que participaram, os investimentos realizados e, para deixar o discurso ainda mais instigante, quais as curiosidades, as coincidências, os acasos que permitiram as descobertas.
Ao mesmo tempo em que faz essa divisão histórica, poderá também separar os fatos nos diversos locais onde ocorreram. Como a evolução se deu, por exemplo, nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia. E estabelecer entre as diferentes épocas e locais as comparações, mostrando as diferenças e as semelhanças.
Dessa forma, elaborando a apresentação com essas divisões e comparações e tendo à disposição as histórias que colecionou irá seguro para as suas apresentações. Nunca mais ficará preocupado em não ter conteúdo suficiente para completar o tempo determinado para a sua participação. Siga pelo Instagram: @polito