A música, linguagem universal que transcende culturas e eras, exerce influência profunda sobre a psique humana e o comportamento social.

A música, linguagem universal que transcende culturas e eras, exerce influência profunda sobre a psique humana e o comportamento social.

Mais do que uma expressão artística, revela-se ferramenta poderosa capaz de moldar emoções, evocar memórias, modificar hábitos e até reconfigurar ambientes.

Em 2006, o metrô de Londres testemunhou esse poder de forma notável: ao introduzir música clássica nos alto-falantes de suas estações e vagões, registrou-se uma redução de até 33% nos furtos e roubos, além de uma diminuição significativa nos atos de vandalismo. Medidas tradicionais, como o aumento do efetivo policial e a instalação de câmeras de segurança, não haviam alcançado resultados semelhantes.

Inspirados por essa experiência, pesquisadores investigaram a influência da música no comportamento do consumidor. Propuseram um experimento em uma adega de vinhos que alternava entre músicas francesas e alemãs em seu ambiente. Observou-se que, nos dias em que tocavam música francesa, as vendas de vinhos franceses aumentavam, enquanto a música alemã impulsionava a venda de vinhos do país germânico. Curiosamente, os clientes não associavam conscientemente suas escolhas à música ambiente, indicando que decisões de compra são frequentemente guiadas por estímulos emocionais inconscientes.

A cidade de São Paulo, com seu extenso e movimentado sistema de metrô, poderia beneficiar-se de estratégias semelhantes. O Metrô de São Paulo, inaugurado em 1974, é um dos mais modernos da América Latina, com 104,4 quilômetros de extensão, 6 linhas e 91 estações, transportando cerca de 4 milhões de passageiros diariamente. No entanto, desafios relacionados à segurança persistem. Entre janeiro e maio de 2022, foram registrados ao menos 550 acidentes envolvendo passageiros, uma média de três por dia, sendo 67% ocorridos em escadas das estações. Além disso, em 2013, os furtos no sistema aumentaram 64% em relação ao ano anterior, passando de 3.439 para 5.664 ocorrências, enquanto os roubos subiram de 173 para 306, um aumento de 76%.

Implementar a reprodução de música clássica nas estações e vagões do Metrô de São Paulo poderia não apenas melhorar a experiência dos passageiros, mas também contribuir para a redução da criminalidade e dos acidentes. A música tem o poder de evocar memórias e emoções, criando uma atmosfera mais acolhedora e humana nos espaços públicos.
Platão, há quase quatro séculos antes de Cristo, já alertava sobre o impacto da música na alma humana, enfatizando que certas melodias podem inspirar virtudes, enquanto outras podem induzir comportamentos indesejados. Em um mundo moderno repleto de estímulos constantes, a escolha consciente da música que nos cerca pode ser determinante para nosso bem-estar emocional e mental.

Portanto, ao considerar estratégias para melhorar a segurança e a qualidade de vida urbana, é essencial reconhecer o papel transformador da música. Se ela foi capaz de reduzir a criminalidade no metrô de Londres e influenciar comportamentos de consumo, por que não utilizá-la de forma consciente para promover ambientes mais seguros e harmoniosos em São Paulo? Afinal, a música não é apenas uma forma de arte, mas também uma aliada poderosa na construção de sociedades mais equilibradas e saudáveis.

O famoso bom, bonito e barato.

Fica a dica, Sr. Prefeito!

Claudia Cataldi é Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, Especialista em Governança Pública, Graduada pela Escola Superior de Guerra, Doutoranda pela Escola de Guerra Naval.

“Este artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal de Notícias ABIME. A publicação é voluntária e sem remuneração.”

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