Ninguém aguenta mais ficar em casa. Depois de um ano e meio de pandemia no Brasil, isso é um fato. E se tem algo que quase parou nesse tempo foi o turismo. Deixamos de viajar e de conhecer novos lugares por motivos óbvios. Mas, com o início da vacinação, há uma luz no fim do túnel e, com certeza, os planos e sonhos para planejar as férias ressurgiram.
No entanto, o receio de entrar em um avião continua para muita gente. Mas quem disse que é preciso ir longe para ter novas experiências? Ainda mais quando se é morador de uma cidade como Salvador.
Além de aguardar a retomada plena do turismo, que deve ser gradual, esta é uma das apostas do setor hoteleiro: convencer os moradores da própria cidade a ocupar os hotéis e seus espaços.
O Fera Palace, localizado na rua Chile, no Centro Histórico, tem atraído esse público cada vez mais crescente. Sem poder viajar, o soteropolitano passou a buscar estratégias para sair da rotina doméstica.
“É bom porque valoriza a cidade. Nós concebemos o Fera Palace para o soteropolitano e baiano”, diz Paulo Marques, diretor da Fera Investimentos, grupo que comanda o hotel. De acordo com ele, nos fins de semana há uma ocupação considerável de soteropolitanos, de 20% a 30%.
Como o momento não é oportuno para o turismo internacional, o brasileiro tem investido em opções pelo país, então o público frequentador de hotéis também mudou.
Se, antes da pandemia, no Fera Palace, 40% eram europeus – número que deixou de existir, por enquanto – e 60% brasileiros, principalmente do Sudeste, atualmente, com o avanço da vacinação, turistas e até baianos se sentem mais seguros para experienciar novos momentos.
Respirar os ares do Centro Histórico da cidade ou fazer uma pequena viagem de carro para Salvador tem sido uma opção, pelo menos nos últimos meses.
De acordo com Marques, com rigorosos protocolos de higiene, o Fera faz questão de tomar todos os cuidados para que as pessoas não hesitem em visitar. Além disso, para atrair esse público, o hotel lança promoções exclusivas para o soteropolitano com tarifas menores na hospedagem.
Além das condições especiais para hóspedes, o Fera traz uma novidade para a cidade: o restaurante Omí, comandado pelo chef Fabrício Lemos (Origem e Ori).
“Quando fizemos o retrofit do Fera Palace, buscamos trazer elementos arquitetônicos que remetessem à Bahia. Valorizamos o local e faltava trazer na experiência gastronômica um chef que também tem esse viés de valorizar a nossa cultura”, comenta Marques.
Restaurantes
Nem todos sabem, mas os restaurantes de alguns hotéis são abertos ao público e não exclusivos para hóspedes. E é justamente na gastronomia que os hotéis querem se destacar.
Especializado em frutos do mar e pescados, o Omí também tem pratos exclusivos no Fera, um mix de sabores com a valorização da culinária baiana, com técnicas da cozinha mediterrânea.
“O Omí, que em iorubá significa água, dialoga muito com a cultura local e complementa o hotel com a experiência gastronômica. Antes de trazer uma operação de fora, ponderamos muitos aspectos e estamos felizes com o resultado de manter uma identidade única em todo o hotel”.
Para tanto, o chef não assumiu apenas o restaurante principal, mas o bar do lobby, o serviço de quarto, bar da piscina e até o café da manhã do hotel agora têm a assinatura de Fabrício.
Além do Fera Palace, o vizinho, Fasano, sétimo hotel do grupo, também tem um restaurante aberto ao público, o restaurante Fasano, o único fora de São Paulo. Por lá é possível encontrar um cardápio executivo para o almoço, o Mezzogiorno, de terça a sexta-feira, com entrada, prato principal e sobremesa por R$ 99.
Aos sábados, no Fasano, soteropolitanos e turistas podem contar com a feijoada, lançada neste mês, por um valor fixo de R$ 115, ao som de clássicos do samba e da MPB na voz de Carla Lis, vocalista da banda Didá.
Além do restaurante, quem quiser pode passar pelo spa do hotel, que é aberto ao público e tem uma variedade de tratamentos corporais que alia procedimentos de vários lugares do mundo.
Para quem procura um staycation – férias sem sair da sua cidade –, a gerente-geral Letícia Alcazar conta que o Fasano criou tarifas especiais para o soteropolitano.
Foram lançados pacotes especiais, como o Desfrute Salvador, composto de uma noite, café da manhã e massagem de 30 minutos; o Descubra Salvador com duas noites, 30% de desconto na segunda noite e café da manhã; e o Fasano Bem Estar, que oferece duas noites com café da manhã e massagem no spa.
Buscar essas estratégias foi preciso para recuperar as perdas da pandemia e aumentar a taxa de ocupação. Em 2019, Salvador vivia um momento de euforia no turismo, e a expectativa para o ano seguinte era ainda maior, já que foi considerada um dos principais destinos do Brasil e até do mundo.
Em abril de 2019 eram 711.162 turistas na cidade, número que caiu para 27.297 no mesmo mês de 2020. Em reais, quase R$ 1 bilhão de receita turística se reduziu a R$ 36 milhões no mesmo mês do primeiro ano de pandemia, segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
De acordo com Letícia, o público baiano é muito acolhedor e recebeu o Fasano de braços abertos, nada mais justo que retribuir oferecendo experiências também para os moradores.
“Nós temos o primeiro restaurante Fasano fora de São Paulo, e muitos dos nossos clientes são admiradores da gastronomia das demais casas do Grupo Fasano, como o Gero e o Pariggi, e novos clientes também vieram conhecer a proposta”.
E vamos combinar que estar em uma região histórica, em frente à Praça Castro Alves, por si só já é um chamariz para visitantes, turistas ou não.
Para o Centro Histórico, são esperadas novidades que visam valorizar ainda mais o local, como o Palacete do Tira Chapéu, centro gastronômico do grupo Fera Investimentos, com previsão de inauguração parcial em um ano, em frente ao Palácio Rio Branco.
Novos ares
Após passar nove meses de portas fechadas, o Wish Hotel da Bahia, no Campo Grande, reabriu em novembro com o objetivo de compreender as novas necessidades do mercado e o perfil do hóspede em uma pandemia.
Para isso, foram pensados pacotes especiais para famílias, pacotes românticos, e para quem vem a trabalho, agora que as viagens corporativas retornam aos poucos.
O gerente-geral Alejandro Geis conta que o Wish aproveitou esse tempo para treinar a equipe e potencializar o serviço ainda mais, trazendo novos nomes do setor hoteleiro para Salvador, a exemplo da gerente de alimentos e bebidas Eduarda Ketzer, com anos de experiência em grandes hotéis, como o Copacabana Palace.
“Os soteropolitanos começaram a frequentar esse espaço bem mais na pandemia, por causa da impossibilidade de viajar e da rotina. Mas acredito que isso veio para ficar”, diz o gerente.
O Wish aposta também nas datas comemorativas para trazer o público local cada vez mais para o hotel: “Fizemos um evento no Dia dos Namorados que foi um sucesso, claro, respeitando sempre a segurança”.
O hotel tem uma parceria com o Hospital Sírio-Libanês, que redesenhou os processos e procedimentos para tornar o ambiente mais seguro possível.
O próximo evento será o almoço de Dia dos Pais, que contará com o assador gaúcho Sandro Paris para o preparo da parrilla argentina. “Olhamos os eventos como oportunidades para atrair as pessoas da própria cidade. Percebemos que se valorizam cada vez mais as experiências, e o nosso hotel tem um link cultural muito forte com a cidade. O prédio é tombado e tem um acervo de obras de arte de muitos artistas”.
Cardápio
O Wish vai contar com dois restaurantes, sendo que um deles tem reabertura prevista para janeiro do próximo ano, já que o movimento, apesar de crescente, ainda não é tão grande. Por enquanto, é o Passeio da Vitória, com vista para a praça do Campo Grande, tem atraído clientes, e o cardápio é atualizado semanalmente, diferentemente dos restaurantes de rua. Além disso, o hotel tem lobby bar com happy hour às quintas e sextas-feiras aberto ao público e tem agradado.
Assim como no Fera e Fasano, o número de hóspedes locais e de cidades vizinhas também aumentou, e foram criados pacotes especiais para os que se hospedam por duas a três noites. “Estamos percebendo uma curva ascendente na nossa ocupação com o avanço da vacinação. Estamos indo para 40%”, revela Geis. Atualmente 20% dos hóspedes são soteropolitanos.
Seja pela gastronomia ou pela hospedagem, os hotéis estão de portas abertas para a cidade. De acordo com o gerente-geral do Wish, o público brasileiro ainda tem um pouco de receio quando se trata de frequentar esses espaços, mas garante que têm um prazer enorme em receber os moradores.
Fonte: atarde.uol.com.br