Prática consiste na realização de exercícios funcionais e busca se relacionar com movimentos do dia a dia, como subir em um ônibus, carregar compras e pegar objetos no alto do armário
Pode ser surpreendente quando se lê pela primeira vez, mas é verdade: o CrossFit pode ser uma modalidade muito benéfica para os idosos. Isto porque, embora seja uma prática intensa, ele ajuda a melhorar a densidade óssea, aumenta a força e garante mais agilidade para as tarefas do dia-a-dia.
“A qualidade de vida do idoso depende de autonomia para que ele possa executar atividades corriqueiras. Com as devidas adaptações, o CrossFit pode proporcionar isso, sem falar da sensação de bem-estar e do aumento da autoestima”, afirma o Dr. Paulo Szeles, ortopedista e médico do esporte com foco em lesões de CrossFit.
Conforme ele explica, a prática consiste na realização de exercícios funcionais que combinam força, resistência cardiovascular e respiratória, agilidade e flexibilidade. Os treinos possuem intensidade mais elevada do que outras modalidades, levando o corpo a trabalhar até seu limite.
“O mais interessante é que eles preparam o organismo para diversas situações, já que os exercícios funcionais estão relacionados aos movimentos que utilizamos no dia a dia, como subir em um ônibus, abaixar e levantar um objeto do chão, carregar compras, pegar algum objeto no alto do armário”, revela Dr. Szeles.
O CrossFit para idosos deve ser adaptado, respeitando as limitações de cada um durante os treinos. Os movimentos precisam ser adequados para os praticantes que possuem a mobilidade um pouco mais reduzida; a corrida não é tão intensa e os pesos são mais leves. “Mas a saúde dos praticantes continua sendo estimulada e a musculatura fortalecida”, diz ele.
Apesar dos benefícios, o médico lembra que, antes de iniciar a prática, é fundamental realizar um check up médico para prevenir lesões e detectar qualquer fator de risco que possa indicar problemas na saúde e a necessidade de adaptações para uma prática segura.
Dr. Szeles destacou alguns benefícios que o CrossFit pode trazer para os idosos:
- Mais agilidade e flexibilidade
Os idosos tendem a perder força e flexibilidade por conta do próprio processo de envelhecimento, podendo gerar perda do equilíbrio, da coordenação motora e limitação articular. “Isso pode comprometer a independência dos movimentos, acarretando maior dependência do idoso e, consequentemente, uma redução da qualidade de vida”, diz o especialista.
O CrossFit atenua esses efeitos negativos por sua associação ao aumento da flexibilidade, redução das tensões musculares e prevenção de lesões e no auxílio no retardo da perda de força. Tudo isso potencializa a sensação de autonomia e de bem-estar, promove mais disposição e faz com que seja mais fácil realizar as atividades diárias.
- Aumento da capacidade respiratória
Com o passar dos anos, nosso organismo perde um pouco da capacidade respiratória. Isso quer dizer que, quando envelhecemos acontece a diminuição da massa muscular também na região do tórax.
“A principal função dos pulmões é oxigenar o sangue e eliminar o dióxido de carbono, permitindo que o ar que respiramos entre em contato com o sangue que circula no corpo. Esse contato possibilita uma troca gasosa essencial para a vida. Consiste, basicamente, na absorção do oxigênio pelo sangue a fim de, ligado à hemoglobina, ser transportado para todas as células do organismo. Sem falar que ele elimina o gás carbônico que as células produziram para gerar energia”, afirma o especialista.
No CrossFit, as atividades que envolvem repetições contribuem para o desenvolvimento da resistência cardiorrespiratória e cardiovascular. Ao melhorar esse desempenho, o idoso consegue imprimir mais esforço físico em sua rotina.
- Intensificação da vida social
A interação social é um dos fatores que mais contribuem para a qualidade da saúde psicológica na terceira idade. Estimular a convivência do idoso por meio de atividades coletivas traz benefícios importantes para um envelhecimento saudável da mente e corpo, contribuindo para evitar distúrbios comuns nessa fase da vida, como a depressão.
“As atividades físicas coletivas, como o CrossFit, são uma excelente opção para manter o idoso ativo e enturmado”, afirma o Dr. Szeles.
- Elevação da autoestima
A aposentadoria e a falta de rotina podem gerar desmotivação na terceira idade, que fica sem saber o que fazer com a falta de compromissos, objetivos e o tempo ocioso. Assim, tende a se isolar do convívio social e das atividades que costumava praticar, tendo sua autoestima prejudicada.
A prática de exercícios em grupo, como o CrossFit, pode ser uma excelente opção para elevar a autoestima, já que estimula a socialização, além de causar sensação de bem-estar pessoal, provocando impactos positivos neste quesito. “Incentivar o idoso a praticar exercícios trabalha a realização pessoal, promove o desenvolvimento de novas habilidades e faz com que ele se sinta mais independente e satisfeito consigo mesmo”, esclarece o médico.
O médico do esporte ainda reforça a importância de sempre treinar com supervisão de um profissional capacitado para a modalidade. “O acompanhamento do profissional de educação física habilitado para o CrossFit é tão essencial quanto o acompanhamento médico. Quando praticada de forma correta, a modalidade minimiza as lesões e ainda previne acidentes domésticos por falta de força muscular, completa o especialista. Sobre Dr. Paulo Roberto Szeles
Médico com Título de Especialista em Medicina Esportiva e em Ortopedia e Traumatologia. Pós Graduado em Traumatologia do Esporte e Fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde também fez Mestrado em Medicina Esportiva com foco em lesões de CrossFit.
Atualmente é Médico da Seleção Brasileira de Basquete Feminino e coordena a Residência Médica em Medicina Esportiva da UNIFESP.
Já atuou como médico em grandes eventos Esportivos, como Copa do Mundo do Brasil (2014), Jogos Olímpicos Rio 2016, Copa América de Futebol (2019) e Basquete (2009 e 2017), Campeonato Mundial de Basquete (2009 e 2010) e AmeriCup (2021), onde o Brasil foi medalha de bronze.