Vimos na matéria sobre o Mercado de Captação de Recursos a dificuldade existente para a maioria das ONGs conseguir atender a tempo todo o processo e como isso demanda recurso humano qualificado.
É justamente nessa dificuldade que pessoas e empresas mau intencionadas conseguem se instalar e gerar prejuízos financeiros suficientes para quebrar uma ONG séria. E isso é ainda de maior gravidade porque usam uma Lei Federal, a Lei 9249/95, se passam por empresas de captação, recebem os projetos das empresas, mas na hora os recursos nunca chegam.
Nosso jornalismo foi contatado por um grupo de ONGs, e pessoas físicas que tiveram essa triste experiência e hoje lutam na justiça, com processos abertos, reclamações em todos os órgãos de reclamação: Procons, Reclame Aqui, etc. Todos prejudicados por uma mesma empresa que afirma atuar no segmento de captação de recursos, só que internacionais. Em sua quase totalidade, os denunciantes não receberam a integralidade dos valores do distrato, tão menos algum centavo dos recursos prometidos.
A primeira grande ilusão atinge pessoas físicas em busca da casa própria.
Através de divulgações nas redes sociais – o que é muito grave porque caberia uma intervenção rápida do Ministério Público – o grupo vende para pessoas físicas o sonho da casa própria. A tática é mostrar ao público que a empresa capta recursos internacionais direcionados a projetos sociais e distribui quotas que iam de 500 mil a quatro milhões de reais para a pessoa comprar seu imóvel, isso indiscriminadamente, a quem quisesse adquirir as quotas de cada valor. O mesmo vale para a pessoa que queira criar seu próprio negócio. A empresa usa do desconhecimento em Leis de Incentivo e Captação de Recursos via Fundos Internacionais para aplicar o dano.
A pessoa então entra em contato com a empresa e tudo pelo WhatsApp – a empresa não tem telefone fixo nem canal de comunicação direto com o cliente – recebe a proposta na qual ela terá a chance de receber até 500 mil reais, 1 milhão de reais, 1,5 milhão de reais e até 4 milhões de reais para fazer tudo que quiser com a compra do imóvel, inclusive mobiliá-lo. Só tem que devolver – está no contrato – o valor que sobrar, caso sobre a empresa oportunista. Aí vem o golpe: para que a pessoa possa receber esse dinheiro, ela precisa pagar os custos advocatícios para que o seu processo seja aberto e o cliente receba o valor prometido. Lembrando a você que custos advocatícios são serviços realizados, horas de trabalho do advogado no processo do cliente e, portanto, esse valor é o pagamento de um serviço prestado. No entanto a empresa chegou a dizer e a ressarcir os clientes mais antigos e insistentes desse dinheiro que pagaram a empresa lesiva Ora, se eram custos advocatícios, não cabe devolução porque o serviço foi prestado. A empresa lesiva tem a ardilosidade de dizer aos clientes que os recursos não saíram porque estão bloqueados pelo Ministério Público. Esse é o golpe que mais causa prejuízos, porque atinge centenas de clientes no Brasil afora. E o pior, continua sendo veiculadas as propagandas nas redes sociais e para dar veracidade aos casos, a empresa mostra seus proprietários em viagens internacionais caríssimas. Para as pessoas que investiram, resta-lhes amargar o prejuízo, aguardar que a justiça atue dentro dos inúmeros processos que a cada dia chegam. Alguns como tivemos acesso, perderam toda a economia que tinham, envolveram familiares com o mesmo sonho que também perderam suas finanças.
O segundo maior dano atinge ONGs e indiretamente toda a economia local e pessoas que dependem das ações sociais pelas ONGs realizadas.
O mesmo grupo atua diretamente com ONGs, causando um prejuízo maior ainda, porque elas, as ONGs atendem a centenas e até milhares de pessoas, umas mais regionalizadas e outras em nível nacional. Prejudicar uma estrutura desse porte é prejudicar indireta e diretamente toda uma população que depende da sua atuação.
E em relação a ONGs o grupo age com requintes de crueldade. Primeiro a ONG escolhe o valor da quota que deseja receber. Os valores das quotas são os mais diversificados possíveis, chegando a quotas na casa dos milhões de reais. Cada quota tem seu valor. Assim a ONG adquire a quota, paga o valor referente a ela, e só então após isso o projeto segue para a avaliação.; descritivo do projeto e planilha de desembolso. O problema é que os prazos não começam a ser cumpridos. Novas promessas de depósitos são feitas. A empresa então começa a apontar modificações nos projetos para ganhar tempo dos clientes. E a situação vai só se complicando, porque fica evidente que a empresa contratada não conseguirá arcar com o estabelecido em contrato. O cliente, que é a ONG que contratou a captadora de recursos pede então o distrato – previsto no contrato – para receber os valores investidos no contrato. Aqui começa a segunda parte da angústia das ONGs porque elas não conseguem receber o valor investido, só algumas conseguem reaver uma pequena fração do que pagou. E segundo dados que apuramos a empresa tem mais de 9 mil clientes em todo país. Por isso todos os dias uma leva grande de processos e reclamações são abertas contra essa empresa.
A estratégia para driblar o cliente é a velha conhecida dos canais de Defesa do Consumidor: ter um canal de atendimento ao cliente, mas o mesmo não consegue falar com a empresa, pois quando não fazem o cliente esperar por um longo tempo, eles jogam esse cliente para o fim da fila de espera novamente. E ainda pior, segundo os denunciantes a empresa vive mudando o canal de relacionamento com o cliente de número. OWhatsapp acaba sendo a ferramenta que os clientes conseguem usar, mesmo assim com muita dificuldade. E quando se vê em situação complicada com esses clientes, a empresa ligadiretamente para a pessoa a fim de não deixarem nada registrado que os comprometa.
O dano atinge segmentos diversificados no território nacional, incluindo ONGs de atuação nacional, empresas, igrejas, estudantes e seus familiares, que, enfrentam grandes problemas financeiros e o pior deles, o de reputação, porque tendo a certeza dos aportes, conhecendo os responsáveis pela empresa, pesquisando junto aos órgãos públicos, nada se achava que desabonasse a atuação da captadora. Muitos desses casos tem processos correndo na justiça.
Os requintes de crueldade da empresa oportunista – para não usar outros termos – atingem também o setor da Educação, ofertando Bolsas de Estudos em escolas e universidades. Temos relato de casos de pais que estão endividados porque no momento do repasse da bolsa a empresa não cumpriu com o acordado, afirmou para a família que poderia fazer a matrícula que a empresa a reembolsaria em seguida mas não foi assim que ocorreu.
A empresa também oferece quotas do Visanet, inicialmente oferecendo aportes de 150 mil reais e agora a oferta é de 15 mil reais. Os clientes que foram lesados nessa outra forma da empresa agir entraram em contato com a própria Visanet e a mesma lhes informou não possuir qualquer tipo de parceria com esta empresa.
Quando os recursos não chegam no prazo, todas as pessoas envolvidas no projeto que está sendo executado sentem-se prejudicadas com a ONG, o que denigre sua reputação e faz com que perca voluntários e apoiadores da ONG.
Os requintes de crueldade qual mencionamos é a frieza, a ardilosidade da empresa captadora estender o sofrimento dos envolvidos na ONG, estender o árduo trabalho para adequar e readequar projetos com a esperança de que o recurso sairá. E mesmo sabendo de tudo isso, essa empresa ainda ilude mais as ONGs fazendo que elas assumam compromissos com terceiros.
A cada dia novos outros processos são movidos contra a empresa, que, agora assume protagonismo nas denúncias feitas nos Procons, no Reclame Aqui, que já aparece em algumas mídias alternativas e jájá pela repercussão que está tomando, aparecerá nas grandes mídias e tabloides nacionais.
O que assusta até isso acontecer é que a empresa continua com suas redes sociais ativas, vendendo e lesando consumidores pelo país afora, e nenhuma medida foi tomada no intuito de frear essa ação prejudicial, cujos processos em andamento apontam para a prática de estelionato.
Fonte da Imagem: Imagem de Freepik
Por Adinaldo Diniz