Galeria Lume estreia o ano com “À espreita”, de Ana Vitória Mussi

Galeria Lume estreia o ano com “À espreita”, de Ana Vitória Mussi

Ana Vitória Mussi. Mil e Uma Noites, 2005. caixa porta-joias e fotografia.

A exposição faz uma retrospectiva da extensa produção da artista plástica, que dedica-se à investigação das imagens pela fotografia, explorando seus limites e possibilidades além dos usos e meios convencionais

Com uma retrospectiva do trabalho de mais de quatro décadas da artista-fotógrafa Ana Vitória Mussi (1943), que apresenta uma vasta produção composta por fotografia, imagens em movimento, objetos e instalações, a Galeria Lume exibe, a partir de 11 de fevereiro, sábado, às 11h, “À espreita”. Com curadoria de Paulo Kassab Jr., a exposição destaca fotografias que analisam os diálogos da artista com o principal dispositivo de circulação e produção de imagens de sua geração: a televisão. 

Nos anos 70, Ana V. Mussi passou a integrar o grupo que tornou-se conhecido como pioneiro da videoarte no Brasil, composto por outros sete artistas – Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Sônia Andrade, Ivens Machado, Paulo Herkenhoff, Letícia Parente, Miriam Danowski. Por conta deste período de tempo (1974 a 1982) em que trabalhou em conjunto  com o grupo, a mostra irá contemplar, também, obras de Anna Bella Geiger, que conversam e reforçam a produção de Mussi como forma de trabalhar a imagem em veículos de comunicação em massa. 

Para o curador, “Ana V. Mussi apropria-se de uma imagem criando outros significados  sobre ela;   Apoderando-se de cenas corriqueiras ou imagens clássicas do cinema, a artista não nos pede para abandonar o pensamento imagético, mas sim pensar na imagem e pela imagem, abdicar do que, no pensamento, se acorrenta à matéria para fazer a entidade subjetiva.” 

Nas fotografias em que se apropria de imagens televisivas, a artista restitui a cada imagem a aparição inesperada do ato. A câmera paralisa a cena, interrompe a sessão e reluz o momento da ameaça do movimento: o golpe. 

Nos últimos 40 anos, Ana M. vem dedicando-se à investigação de imagens como forma de explorar seus limites e possibilidades. Trazendo objetos, projeções, filmes, fotografias e esculturas, “À espreita” analisa a relação entre a condição da imagem no mundo, sobretudo a imagem televisiva e audiovisual, e a nossa submissão aos seus poderes – à sua capacidade de nos influenciar. É por essa janela (televisão), em nossas casas, que assistimos às guerras viscerais desta cidade, às invasões nas favelas, ao som ensurdecedor da artilharia, a população acuada e muda. Nenhum pássaro cruza, nenhum cão ladra. Estamos aqui e não lá, talvez pensemos aliviados, ainda que este “lá” esteja em imediata proximidade, ainda que os estrondos das armas que ouvimos bem aqui à nossa volta se confundam com aqueles emitidos ao vivo pela tevê.

“Ana Vitória Mussi, desde cedo, se deu a difícil tarefa de fotografar o ‘através’, o interstício entre o que se vê e o que permanece velado entre o olhar e o pensamento, entre a abertura e o confinamento do campo perceptivo”, explica Marisa Flórido César, curadora e pesquisadora obstinada do trabalho da artista.

Veja, a seguir, algumas obras-destaque da exposição:

Mergulho na Imagem

Nesta obra, a imagem de uma nadadora em pleno salto é impressa por foto-serigrafia em uma parede de tijolos de vidro. No chão, um abismo d’água aguarda o mergulho no reflexo prometido. Ana Vitória faz uso de tijolos de vidro desde os anos 1990 ao perceber, em sua forma, proximidades tanto com o monitor de tevê quanto com a transparência dos negativos e a superfície d’água congelada. Camadas de vidro que distorcem a imagem de acordo com o movimento de nossos corpos.

Bang! (Vídeo arte) 

A única legenda que aparece em Bang alerta: estamos na suspensão do “ainda não” que antecede o estopim da arma, o clique da câmera fotográfica, a deflagração do trágico acontecimento: a guerra. Um segundo tão asfixiante que parece se estender ad aeternum.

Em Bang, Ana Vitória Mussi mostra cenas de guerrilha urbana nos morros cariocas. As ocupações das Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro (emitidas ao vivo e fotografadas da televisão) são intercaladas com cenas de sete filmes e documentários da Segunda Guerra Mundial, ao som da canção “Bang Bang (My baby shot me down)” que compõe a trilha sonora do filme Kill Bill I (2003/2004), de Quentin Tarantino. Ana Vitória interrompe o fluxo narrativo e o contínuo temporal das imagens do cinema e da tevê pela fotografia, as edita e monta em associações singulares: o salto do atleta olímpico do documentário de Leni Riefenstahl e o voo dos aviões de combate (os quase deuses e suas quedas); o complexo jogo de direcionamento e triangulação dos olhares (dos indivíduos e da massa indistinta) com as máquinas de guerra e as de imagem (dos binóculos à fotográfica e ao celular); a suavidade e a redenção do amor em tempos de insanas brutalidades.

Sobre a Galeria Lume 

A Galeria Lume foi fundada em 2011 com a proposta de fomentar o desenvolvimento de processos criativos contemporâneos ao lado de seus artistas e curadores convidados. Dirigida por Paulo Kassab Jr. e Victoria Zuffo, a Lume se dedica a romper fronteiras entre diferentes disciplinas e linguagens, através de um modelo único e audacioso que reforça o papel de São Paulo como um hub cultural e cidade em franca efervescência criativa.

A galeria representa um seleto grupo de artistas estabelecidos e emergentes, dedicada à introdução da arte em todas as suas mídias, voltados para a audiência nacional e internacional, através de um programa de exposições plural e associado a ideias que inspiram e impulsionam a discussão do espírito de época. Foca-se também no diálogo entre a produção de seus artistas e instituições, museus e coleções de relevância. 

A presença ativa e orgânica da galeria no circuito resulta na difusão de suas propostas entre as mais importantes feiras de arte da atualidade, além de integrar e acompanhar também feiras alternativas. A galeria aposta na produção de publicações de seus artistas e realização de material para pesquisa e registro. Da mesma forma, a Lume se disponibiliza como espaço de reflexão e discussão. Recebe palestras, performances, seminários e apresentações artísticas de natureza diversa. 

Serviço

À espreita | Ana Vitória Mussi

Texto curatorial: Paulo Kassab Jr.

Local: Galeria Lume, sala expositiva I

Abertura: 11 de fevereiro, das 11h às 17h

Período expositivo: 11 de fevereiro a 18 de março de 2023

Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 11h às 15h

Endereço: Rua Gumercindo Saraiva, 54 – Jardim Europa, São Paulo – SP

Entrada gratuita 

Informações para o público: tel.: (55) 11 4883-0351 / e-mail:  contato@galerialume.com

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