Ianelli, Arcangelo 1998.022 – Romulo Fialdini
A mostra ‘Arcangelo Ianelli 100 anos – o artista essencial’ traz uma retrospectiva da extensa obra pictórica e escultórica, baseada na busca da essência da cor e da luz. Com curadoria de Denise Mattar, exposição ainda traz ao público um recorte do ateliê de Ianelli, com pincéis, cavaletes e outros objetos usados pelo artista
O Museu de Arte Moderna de São Paulo abre a programação de 2023 com uma exposição que celebra o centenário de Arcangelo Ianelli (1922-2009), artista que dedicou sua pesquisa à busca pela essência da cor e da luz. Aberta ao público a partir de 14 de fevereiro na Sala Milú Villela, a exposição Arcangelo Ianelli 100 anos – o artista essencial tem curadoria de Denise Mattar e reúne um panorama das fases da obra do artista.
“Pintar, para Arcangelo Ianelli, agora é suscitar o surgimento da cor”, anuncia o poema de Ferreira Gullar, na entrada da exposição. A depuração da cor, algo que o artista assume até chegar em sua fase final, está presente de diferentes formas em todo o conjunto eleito pela curadoria.
Para Denise Mattar, “Ianelli foi de fato um artista do fazer, obsessivamente dedicado ao metier, e intransigente quanto ao lugar da pintura. Tendo feito o percurso habitual da sua geração, realizou obras acadêmicas, seguidas por pinturas com acentos cezanianos, que foram se tornando cada vez mais sintéticas até o mergulho na abstração, que o encaminhou, sem volta, em busca da essência”.
O espaço expositivo reproduz uma parte do ateliê do artista, com materiais usados por ele em vida, como pincéis, cavaletes, pigmentos, livros referenciais, entre outros objetos que compunham o seu ambiente de trabalho. A mostra, organizada em três núcleos – Diorama das pinturas, Diorama dos relevos brancos e Diorama das esculturas -, busca trazer ao visitante um olhar dinâmico, não cronológico, a partir das diferentes fases do trabalho de Ianelli.
As obras de Diorama das pinturas evidenciam o desenvolvimento pictórico de Ianelli do começo ao fim de sua vida. A curadora conta que “Ianelli picotava os pincéis para atingir o resultado que esperava, buscando encontrar as formas que desejava levar à pintura, uma técnica distinta e muito interessante”. Nesse núcleo, também serão exibidos livros referenciais do artista, textos e frases soltas de outras pessoas que o inspiravam – materiais que ele espalhava por seu ateliê -, a fim de recriar o clima instalado no ambiente em que o artista operava.
O núcleo Diorama dos relevos brancos traz a pesquisa escultórica do artista. A partir de 1975, Ianelli começa a pesquisar relevos e ao longo do processo, testava uma centena de desenhos antes de chegar a um relevo concreto, estudando por completo a rotação dos triângulos e círculos, para, assim, descobrir a melhor forma, e, finalmente, chegar nas obras em madeira – maquetes, desenhos e esculturas.
Em Diorama das esculturas, será possível visualizar as etapas e processos do trabalho do artista até o momento final de execução das esculturas em mármore, exploradas na fase final de sua vida. Ianelli passava por vários materiais até chegar a uma escultura definitiva. Tudo começava com o desenho no papel, que vinha seguido do transporte para o papelão. O passo seguinte era trabalhar com um metal finíssimo, para, então, executar o desenho em madeira. Muitas vezes, ele continuava o processo realizando um segundo teste em metal mais consistente, e, só aí, transportava a obra para o mármore, finalizando o trabalho.
“O partido adotado pela curadoria da mostra foi o de desvelar o processo de criação de Ianelli, trazendo para o público a intimidade do seu ateliê e um percurso organizado para fazer conviver as diferentes fases mostrando a coerência do artista”, explica Mattar. “A realização da mostra comemorativa do nascimento de Arcangelo Ianelli se reveste de especial emoção por se realizar no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o museu mais querido pelo artista”, completa a curadora, que foi diretora do MAM São Paulo entre os anos de 1987 e 1989.
A trajetória de Ianelli está entrelaçada com a do MAM. Figura assídua desde o início do museu, o artista realizou exposições individuais no museu, uma em 1961 e outra em 1999, e teve presença marcante no primeiro Panorama da Arte Brasileira (1969) – mostra fundamental na história do MAM São Paulo e nas edições de Pintura de 1970, 1973 (quando recebeu o Prêmio MAM), 1976, 1983 e 1989. Arcangelo foi ainda membro da Comissão de Arte do museu em 1979 e em 1986, e da Comissão de Premiação em 1980. Sua primeira retrospectiva foi realizada no MAM em 1978, e recebeu o prêmio de Melhor Exposição do Ano, pela ABCA.
“As novas gerações tiveram pouco contato com o trabalho de Arcangelo Ianelli, que possui uma produção em desenho, pintura e escultura fundamental para a compreensão da arte brasileira no século XX”, comenta Cauê Alves, curador-chefe do MAM. “A mostra que o MAM São Paulo apresenta, no ano seguinte ao centenário de nascimento de Ianelli, com curadoria de Denise Mattar, traz um recorte generoso da obra do artista e permite a compreensão de seu processo de criação. A exposição contribui tanto para a difusão de sua obra quanto para que o Museu de Arte Moderna de São Paulo cumpra sua missão de levar a arte moderna e contemporânea para o maior número de pessoas possível”, finaliza Alves.
A exposição de Ianelli integra uma programação de comemorações do MAM, com os 75 anos do museu e 30 anos de seu Jardim de Esculturas.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.
Serviço:
Arcangelo Ianelli 100 anos – o artista essencial
Período: De 14 de fevereiro a 14 de maio de 2023
Abertura: 14 de fevereiro, terça-feira, às 19h
Curadoria: Denise Mattar
Endereço: Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Local: Sala Milú Vilela
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.
*Meia-entrada para estudantes, com identificação; jovens de baixa renda e idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10 anos; pessoas com deficiência e acompanhante; professores e diretores da rede pública estadual e municipal de São Paulo, com identificação; sócios e alunos do MAM; funcionários das empresas parceiras e museus; membros do ICOM, AICA e ABCA, com identificação; funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria Municipal de Cultura.
Telefone: (11) 5085-1300
Acesso para pessoas com deficiência
Restaurante/café
Ar-condicionado