Com discurso, Jânio conquistou militares e catapultou carreira política

Com discurso, Jânio conquistou militares e catapultou carreira política

Crédito: Reinaldo Polito
20/11/2015 16h10

Neste dia 19 comemoramos o dia da bandeira. Há uma história excepcional sobre essa data ocorrida com o ex-presidente Jânio Quadros. Um exemplo de oratória que talvez tenha ajudado a nortear sua carreira política. Esse episódio me foi narrado pelo professor Oswaldo Melantonio em uma de suas memoráveis aulas sobre a arte de falar em público.

Jânio era um mestre da palavra e sabia como ninguém envolver as plateias. Depois de ter sido vereador de 1948 a 1950 e deputado estadual de 1951 a 1953, neste mesmo ano Jânio era o prefeito de São Paulo. Suas aspirações eram enormes, ele pensava em ser governador e chegar à Presidência.

Porém, havia um empecilho: os militares não gostavam muito dele, e ele sabia que precisaria contar com o aval deles para conquistar o que desejava. Para contornar esse obstáculo usou uma estratégia genial. No dia 18 de novembro, na véspera do dia da bandeira, montou um palanque ao lado do Theatro Municipal de São Paulo e convidou para o evento os chefes de todas as Forças Armadas.

Nesse dia, Jânio fez um discurso eloquente, ‘Alocução à Bandeira’, que, segundo testemunhas presentes, emocionou os militares. No dia seguinte, 19 de novembro, a ordem do dia em todos os quartéis do Brasil foi a leitura da ‘Alocução à bandeira’ de Jânio Quadros.

Assim, Jânio obteve a aprovação que precisava para se eleger governador em 1955 e presidente em 1960, para o mandato que se iniciou no ano seguinte. O pouco tempo que permaneceu na Presidência, para o bem ou para o mal, marcou para sempre a história brasileira.

Veja o início e a conclusão do extraordinário discurso proferido por Jânio Quadros:

“Estamos aqui presentes, Governo, Forças Armadas, e uma vasta assembleia de povo, para saudar-te, pendão da Pátria!

Evocamos, na tua contemplação, a nossa História, sequência soberba de sacrifícios e de sonhos, de decepções e de fé rediviva, de lances heroicos e de trabalho profícuo.

A imensa Nação que a língua, a cruz, o amor fraternal, e a vigilância e o gênio dos estadistas, conservaram inteira, para o nosso próprio exemplo, para o nosso próprio bem, e para o mundo melhor, que desejamos…

“… Aqui nos reunimos para te dizer que acreditamos em ti, e na tua destinação de símbolo da nacionalidade.

Aqui, e na festa das tuas cores, renovamos à tua presença, os solenes compromissos comuns.

De absoluta limpidez na honra. De absoluta exação no dever.

De absoluta imparcialidade no Juízo. De absoluto rigor no julgado.

De absoluta submissão à Lei.

Aqui nos congregamos para manifestar-te obediência completa e horror a tudo que te atraiçoe, a tudo que te conspurque, a tudo que te comprometa.

À mentira e à injúria. Ao furto e à violência.

Ao compromisso e ao negócio. Ao embuste e à opressão.

Recebe, Bandeira, o nosso juramento: se não pudermos ter-te por manto, desejamos-te por sudário! Sê bendito, Pavilhão Brasileiro!’

Superdicas da semana:
Não basta a penas o discurso, mas também a circunstância que o envolve.
A mensagem deve ser adequada ao público.
Se for preciso, mude o local, a data e o ambiente para atingir o objetivo da mensagem.
Se não puder chegar até os ouvintes, monte estratégias para que possam ir até você.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: “Como Falar Corretamente e Sem Inibições”, publicado pela Editora Saraiva, e “29 Minutos para Falar Bem em Público”, publicado pela Editora Sextante.

Siga no Instagram: @reinaldo_polito

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