Confira como foi o primeiro dia da II Expo Internacional da Consciência Negra

Confira como foi o primeiro dia da II Expo Internacional da Consciência Negra

Evento acontece entre os dias 18 e 20 de novembro no Expo Center Norte

Um painel sobre ‘Sentidos de liberdade: Independência, Abolição, Quilombo’ abriu os debates da II Expo Internacional da Consciência Negra, que acontece entre os dias 18 e 20 de novembro no Expo Center Norte. A ausência do povo negro e do processo pacífico na versão oficial da independência do Brasil foi um dos temas abordados pelos debatedores.

De maneira geral, explicou o historiador Flávio Gomes, o quilombo é reconhecido como comunidade importante, mas a gente ainda tem imagem de que quilombo não tem conexão com grandes transformações do Brasil. “A imagem de isolamento do quilombo é muito forte, mas o quilombo também esteve presente em torno da independência do Brasil”, disse.

Para Tom Farias, curador da Expo, uma repaginação que tem sido feita nas últimas duas décadas para encarar esse movimento com outros olhares. “Esse olhar vai ter que passar pela educação. Tem que gerar outra leitura deste processo”, considerou.

O fato, pontuou a historiadora Lília Schwarcz, é que vários sequestros das narrativas históricas foram feitos ao longo dos anos com novos governos se lançando a partir de novas versões históricas.

No início da tarde, o tema do painel foi ‘Escritura negra e vida: que joelho é este que tanto as sufoca?’ A terrível morte do norte-americano George Floyd, estrangulado com o joelho por um policial branco em 2020, um policial também branco colocando joelho em uma mulher negra em São Paulo no mesmo ano e a morte de João Alberto, com socos, pontapés e joelho nas costas no Carrefour em Porto Alegre foram alguns dos temas levantados durante o debate. “O racismo censura primeiramente nossa subjetividade, capacidade de pensar, de sentir. Racista oprime, querem matar a nossa humanidade”, afirmou o poeta e ensaísta Cuti, um dos palestrantes do evento. “É uma cultura mundial, e esse joelho está no pescoço do negro americano, sul-africano, caribenho. Somos desumanizados e os corpos descartados no planeta até hoje”, completou a poeta e romancista Míriam Alves.

“Quando você chega na Europa você tem certeza que toda riqueza foi fonte da escravidão, é fruto da luta de um antepassado meu”, comentou o romancista e roteirista Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus.  “Tudo muda. A caverna virou casa, o navio substituiu a canoa. Mas São Jorge não vai substituir ogum. Isso é imutável”.

Para o escritor Geovane Martins, o Brasil não está ruim só pelo atual governo, já é ruim desde 1500. “Agora estamos num período de extrema dificuldade”, disse.

Ganhadora do Prêmio Camões em 2021, Paulina Chiziane a premiação começava sempre com homem branco, mulher branca e depois mestiços. “Só 32 anos depois reconhecem que poderíamos ganhar esse prêmio, uma mulher preta. Eu não sou melhor que qualquer pessoa. Eu escrevo na minha língua portuguesa. Escrevi como qualquer um. Muitas vezes olhamos para essa questão da raça, dos pretos, e vemos que os pretos estão contra os pretos. As vezes nós esquecemos de nós mesmos”, disse ao lembrar que os que diziam que a sua literatura não estava bem escrita, não eram brancos, eram pretos. “E minha literatura começou a ser reconhecida pelos brancos e não pelos pretos. Isso é muito interessante”, avaliou.

Organizada pela Prefeitura de São Paulo e a Secretaria Municipal de Relações Internacionais (SMRI), a II Expo Internacional Dia da Consciência Negra será realizada na Expo Center Norte, entre os dias 18 e 20 de novembro. Sucesso de público em sua primeira edição, o evento é uma das ações concebidas dentro da política pública São Paulo Farol Antirracista, lançada em 2021 pela prefeitura da cidade (em uma parceria das secretarias municipais de Relações Internacionais e de Educação) para estimular o debate e engajar a população no combate ao racismo estrutural a partir da educação e da conscientização.

A II Expo Internacional Dia da Consciência Negra, que celebra o Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), apresentará ao público debates, apresentações musicais, história e cultura do movimento negro no país, em diversos ambientes tecnológicos e sensoriais. Com uma programação robusta, o evento promove uma ponte entre passado, presente e futuro para discutir os 200 anos de luta do movimento negro no Brasil e as raízes do racismo, além de difundir a cultura negra e reafirmar a capital paulista como indutora do debate e das ações para promoção da igualdade racial no país e na América Latina.

SERVIÇO

Data: 18 a 20 de novembro

Local: Expo Center Norte – Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme, São Paulo-SP

Entrada gratuita mediante inscrição

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