por Francisco Gomes Júnior, advogado especialista em direito digital
A era digital trouxe a dependência das pessoas pelos seus smartphones, pelas mídias sociais e pela exposição (seja pessoal ou profissional). E, com o aumento do número de usuários no mundo virtual, surgem os golpes digitais, aqueles praticados utilizando-se basicamente de três elementos: o desejo da vítima em ter algum ganho (financeiro ou pessoal); a oportunidade que é oferecida por meio de propostas tentadoras e a engenharia social, que consiste em fazer com que, através de uma aproximação, a proposta se torne confiável para a pessoa.
Exemplificando: imagine a oferta de um televisor com tela gigante sendo vendida por metade de seu valor de mercado (a proposta tentadora desperta na vítima o desejo de levar uma grande vantagem econômica). Nesse tipo de golpe, o anúncio é postado em mídias sociais e remete o interessado ao site da empresa, onde poderá efetivar a compra – tudo feito de forma perfeita e detalhada para convencer a vítima da legitimidade da venda. E, mesmo que desconfie, como há um telefone para contato no site, a vítima entra em contato e é atendida por um “vendedor” que transmite confiança e dá a segurança para que o negócio seja fechado (a engenharia social do golpe). Pronto, golpe efetivado.
Diante dessas fraudes (como vendas de veículos, de eletrodomésticos, grandes promoções e grandes prêmios, concessão de crédito sem a necessidade de envio de documentos, concessão de juros zero sem nenhuma garantia, empréstimo consignado com taxa zero de juros), identificou-se a necessidade de alertar aos consumidores para que não sejam vítimas deles. Há uma brigada formada por apresentadores em programas de TV aberta e fechada, advogados, especialistas em cibersegurança, além de empresas e bancos que dão dicas diariamente para que não se caia nesses golpes, mas, mesmo assim, eles continuam crescendo.
Isso vem ocorrendo devido principalmente a dois fatores. Primeiro, os golpes estão se massificando cada vez mais, ou seja, se antes o golpista abordava mil vítimas por dia para buscar a fraude, agora milhões de pessoas são abordadas, as quadrilhas aparentemente criaram mecanismos que permitem abordar um número muito maior de pessoas e, assim, ainda que percentualmente não se aumente o número de vítimas, o número absoluto não para de crescer. O outro fator que muito contribui para que os golpes se efetivem é a “automaticidade” do comportamento das vítimas, ou seja, agem automaticamente em muitas situações e quando percebem, já caíram no golpe. A pessoa vê um anúncio, entra no site e faz a compra, sem maiores verificações. É um comportamento automático.
De fato, existem golpes em que a mensagem inicial é enviada a milhões de pessoas, como o golpe do falso emprego. No caso de ser enviada a 2 milhões de pessoas, se apenas 10% delas caírem no golpe, já se somam 200 mil vítimas. Você clica em links indevidos porque comumente clica nos links que recebe; você acredita em um e-mail que imita o do seu banco, porque frequentemente recebe e-mails da instituição financeira; você aceita qualquer aviso sobre seus dados, porque com frequência entra em sites que pedem autorização e clica em aceitar todas; e por aí vai. Esse é o comportamento automático que precisa ser quebrado. É preciso questionar sempre o link, verificar que tipos de e-mail seu banco envia e quais não envia, ler os avisos com os quais está concordando. Como todos estão na correria, o modo automático é o mais rápido, quando se abre, então, a porta para os golpes digitais.
Francisco Gomes Júnior – Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites. Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/