Desde o ano passado, começamos a falar mais sobre roupas digitais, mas quão perto dessa realidade estamos? Finalmente usaremos roupas digitais em 2021?
Assunto já introduzido pelo FFW, as roupas digitais, ou wearables, faziam parte de um universo que foi, inicialmente, mais ligado ao mercado de games e skins para personagens de jogos, mas que agora atinge ainda novos contornos, e vemos surgir plataformas especializadas em criar roupas digitais para além dos consoles de videogame. A realidade aumentada já é acessível e as grandes empresas de tecnologia correm para lançar seus próprios acessórios.
Quem faz
Uma das primeiras plataformas de moda digital, o The Fabricant, cria e insere looks digitalmente nas fotos enviadas por seus clientes, através dos recursos de modelagem e prototipagem 3D. O Dress X atua da mesma forma, com a venda de peças digitais e inserção em fotos de seus clientes, com peças bastante futuristas, que provavelmente encontrariam desafios para serem produzidas fisicamente. Já o The Replicant Fashion, além de criar coleções autorais inteiramente digitais, também tem parcerias com grandes marcas como a Puma, tanto para a criação de coleções digitais quanto para a digitalização de peças já existentes.
Além dessas plataformas, a RTFKT também vale o destaque. A marca de sneakers digitais chamou atenção no ano passado após viralizar uma foto de Elon Musk no Met Gala usanddo um de seus tênis, inserido de forma completamente digital e que foi vendido por US$ 15 mil.
SOFI TUKKER DE DRESS X
Como funciona esse mercado
Os motivos que tornam esse o mercado de roupas digitais tão promissor vão das inúmeras possibilidades de experimentação criativa e artística à sustentabilidade de se criar, produzir e vender roupas sem consumir recursos materiais. Algumas dessas plataformas se denominam empresas de tecnologia e não necessariamente marcas de moda, o que pode nos ajudar a compreender seus objetivos e olhar para essa pauta com uma cabeça mais aberta.
A princípio, grande parte dessas plataformas funcionavam da seguinte forma: o consumidor comprava uma peça digital, enviava sua fotografia para a plataforma, que então inseria digitalmente essa roupa na foto, com todos os ajustes necessários e devolvia o resultado final ao cliente. Atualmente, novas tecnologias já permitem a compra, prova e utilização de roupas virtuais através de realidade aumentada (RA) sem mais a necessidade desse processo.
É o caso do recém lançado sneaker da Gucci, vendido a US$12 e desenvolvido pela empresa indiana Wanna, que através de seu aplicativo permite ao usuário calçar uma série de calçados digitais através de RA. O CLOMETRICA é outro recente aplicativo que busca desenvolver uma tecnologia para utilização e prova de roupas através da realidade aumentada.
SAPATO DIGITAL GUCCI PARA O APLICATIVO WANNA KICKS
A Criptomoda e o NFT
O mercado de roupas digitais, que parecia ser uma realidade distante, olhada com estranhamento por muitos, tem se tornado algo cada vez mais real e cotidiano, em decorrência da popularização das tecnologias de realidade virtual e aumentada e vai se potencializar ainda mais com o 5G. Tudo isso faz parte do mercado de cripto roupas, ou criptomoda, se preferir. Uma derivação da criptoarte, que se refere ao mercado de arte digital, que tem ganhando muita visibilidade devido ao NFT (Non-Fungible Token).
O NFT é uma tecnologia que permite a venda de objetos digitais através de uma tecnologia de blockchain que garante sua originalidade. Muitos acreditaram que os sneakers da Gucci fossem NFTs, mas não foi o caso. No entanto, essa tecnologia abre precedentes para a venda de arte e moda digital permitindo, por exemplo, a criação de edições limitadas e únicas de objetos digitais.
Esses novos avanços tecnológicos caminham para o avanço desse mercado de moda para além das “fotos editadas”, gerando reais marketplaces e uso de peças digitais, algumas que podem até ser compartilháveis com personagens de diferentes jogos, por exemplo.
THE FABRICANT PARA PUMA
Roupas digitais e skins para jogos são a mesma coisa?
Apesar de serem dois mercados que se assemelham bastante e crescem juntos, é preciso diferenciá-los. O mercado de games cresce exponencialmente e tem atraído os olhares de marcas e investidores, entre elas as do setor do luxo, como Louis Vuitton e Burberry, duas marcas que já criaram roupas e designs – as chamadas skins – para jogos. O Fortnite, Animal Crossing e diversos outros games são palco de ações e cases de marcas de luxo na criação de skins e roupas digitais para esses personagens.
Por outro lado, o mercado de roupas digitais se estende para pessoas reais, onde você pode comprar e utilizar peças desenvolvidas única e exclusivamente de forma digital, sem a necessidade de estar inserido em um jogo eletrônico.
SKIN DA BURBERRY PARA HONOR OF KINGS
A moda digital para além do Instagram
Muito ainda se questiona sobre o uso de roupas digitais fora do Instagram e das redes sociais. Mesmo neste momento, em que vimos e somos vistos majoritariamente através de telas, o questionamento ainda é pertinente. O NFT possibilita que as roupas, enquanto objetos digitais, sejam possuídas pelos seus compradores para além de fotos ou vídeos. No entanto, essa pauta está causando bastante controvérsia no que tange à posse de artes digitais.
Mas se você ainda acha tudo isso estranho e não se vê comprando peças para usar apenas digitalmente nos seus posts do Instagram ou TikTok, não ache que seu contato com as roupas digitais acabam por aí. As tecnologias e avanços que vêm junto ao desenvolvimento desse mercado podem – e devem – impactar o mercado de roupas físicas também.
As tecnologias que possibilitam a prototipagem e modelagem de roupas digitais são extremamente realistas, imitando texturas, tecidos, medidas e caimento com bastante precisão. Essas mesmas técnicas já estão sendo utilizadas para a modelagem de roupas físicas, em um processo inteiramente digital e mais sustentável, que só precisa utilizar tecidos nas últimas etapas da produção de uma peça, eliminando o desperdício de matéria prima e encurtando os processos para a produção de uma peça-piloto, por exemplo. Uma das empresas que tem se destacado neste cenário é a holandesa DDIGITT.
Até mesmo o varejo pode se beneficiar disso e do avanço da tecnologia de realidade aumentada. Isto porque a AR permite experimentar roupas físicas virtualmente através de aplicativos e pode estar mais próxima do que você imagina. Com essa tecnologia, se torna possível que se prove roupas de e-commerces à distância, com as medidas, texturas, tecidos e caimentos reais da roupa física, otimizando toda a experiência da compra online.
Esses projetos também podem ser puramente criativos, sendo criados e utilizados para a criar experiências no que tange à apresentação de coleções e criação de fashion films. Na última SPFW, o estilista Lucas Leão apresentou um desfile totalmente virtual com toda a coleção, modelos e cenografia criados em 3D. O futuro definitivamente chegou. É impossivel deter essa transformação. O que pode demorar mais é a inclusão de camadas sociais nessa experiência, mas ela está à caminho.
Fonte: ffw.uol.com.br