O investimento no digital surge como parte integrante da estratégia de visibilidade para chegar ao consumidor final. Em comum, os designers têm a paixão pela moda e a ambição de crescer, enquanto marcas que pretendem expandir horizontes no mundo do negócio.
Nestes primeiros passos no mercado, a percepção é que a imagem tem um poder fundamental na comunicação da marca para torna-la visível. De acordo com o estudo da Economia Digital em Portugal da ACEPI (Associação da Economia Digital em Portugal), um quarto das empresas revela ter iniciativas que vão ao encontro da transformação digital.
Quer seja através de um site ou da presença nas redes sociais, o importante é marcar posição para não correr o risco de passar despercebido. “Temos várias empresas que estão agora dando os primeiros passos no meio digital e que têm percebido que é impossível não apostar na oportunidade de conquistar novos mercados, seja o nacional ou internacional”, acrescentou.
Para os designers, esta é uma realidade que veio ajudar a ultrapassar obstáculos e a ligar o trabalho dos criadores de moda a vários mercados.
“Com as redes sociais não se tem barreiras, consegue-se, de certa forma, chegar a todo o mundo. Isso acaba por ser bastante vantajoso porque, há uns anos, se quiséssemos vender para um determinado país tínhamos que lá estar. Hoje acaba por ser muito fácil porque uma pessoa em Hong Kong pode ver um vestido e vai ao website ou manda e-mail para comprar. É muito interessante”, explica o designer Diogo Miranda.
Contudo, o papel das plataformas digitais não se limita apenas à divulgação e ao número de vendas ou alcance. Trata-se também da proximidade que estes novos meios de conexão da atualidade conferem ao contacto com o cliente por produzirem diretamente para o consumidor. Hugo Costa, que já levou criações até à Semana de Moda Masculina de Paris, está apostando totalmente no digital.
“O nosso objetivo para a marca é existir 100% no digital a curto prazo. Deixamos de fazer showrooms para fazer retalho e otimizar as plataformas para só vendermos no mercado digital. Neste momento, sentimos que o nosso destino é diretamente o consumidor final. O futuro da marca é o digital. E que nós queremos que seja também o presente”, explica ao Portugal Têxtil.
No caso de restarem dúvidas sobre o poder do digital, são múltiplos os estudos na área do consumo que sustentam este fato. Uma análise da Retail Economics prevê que daqui a menos de dez anos, metade das compras sejam feitas online pela praticidade e rentabilização de tempo na deslocação à loja. O estudo revelou ainda que a aceleração do mercado online é impulsionada pelas publicidades emergentes da era digital que dão a conhecer novas marcas e retalhistas.
Oportunidades de clique
Alguns dos jovens designers que integraram o Bloom Upload no Portugal Fashion mencionaram ainda não ter site online por estarem em início de carreira. No entanto, os criadores não descartam esta possibilidade e afirmam que a vertente online será uma das grandes apostas. Para já, as redes sociais como Instagram e o Facebook concedem a possibilidade de fazer algumas vendas.
“Um designer neste momento é uma pessoa que faz tudo. Mesmo a nível das redes sociais tens que fazer a gestão toda”, conta Rita Sá que, apesar de ainda não ter site, disponibiliza as peças para a loja online 15.33 e para a Scar-id.
O mesmo acontece com Maria Meira, cuja marca se apresenta como “jovem e contemporânea”.”Só tenho a página no Instagram, em que as pessoas podem entrar em contacto comigo através de lá e também tenho a ajuda da impius.pt”, salienta. João Sousa e Carolina Sobral confidenciaram ter o site em construção.
Segundo o European B2C Ecommerce Report 2019, o comércio eletrônico atingiu cerca de 2,5 mil milhões de euros a nível mundial em 2018 e deve continuar em crescimento, muito por conta da relação descontraída dos consumidores da Geração Z com as plataformas digitais.
Diferenciar e reinventar
A Gladz, marca de calçado que se afirma como “intemporal”, está reforçando a aposta no mundo digital com um elemento diferenciador, uma aplicativo.
“Estamos reforçando a nossa estratégia online passando por uma app para smartphones, porque todo mundo tem redes sociais, Facebook ou loja online… Isto já foi pensado há quase um ano, já estamos investindo, mas é muito difícil criar uma app funcional que tenha exatamente aquilo que nós queremos, estoques em tempo real e que permita encomendas, etc. Só quando estiver minimamente perfeito é que vamos lançar“, adianta Miguel Moreira, designer e diretor executivo da marca.
Mesmo com pontos de venda pelo mundo inteiro e nas plataformas online como Net-a-Porter e Farfetch, a Marques Almeida decidiu reinventar o site da marca a assinalar a importância do digital. “Está sendo refeita, mas para incluir não só a venda das coleções mas venda de coisas em segunda mão, alugueres. Precisamente por causa da questão da sustentabilidade. Até ao final do ano será lançada, se tudo correr bem”, destacou Marta Marques.