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Como já era esperado por parte dos foliões, 2022 terá dois carnavais. São Paulo e Rio estão com mais de uma centena de festas, festivais e shows temáticos da folia, liderados por blocos populares e produtoras. O “carnabril” terá opções pagas e gratuitas, algumas com estruturas e localização escolhidas para remeter a um evento de rua.
Em paralelo, há uma movimentação de parte dos blocos para que ocorram desfiles nas ruas. A situação foi discutida na sexta-feira, 8, em uma reunião com a Prefeitura de São Paulo e em uma plenária de integrantes de uma organização de agremiações do Rio. As gestões municipais têm respondido que não haveria tempo hábil para a preparação de um evento deste porte, ainda mais sem patrocínio.
Neste e no próximo fim de semana, já há festas e ensaios de “pré-carnaval”, assim como estão marcados outros de pós-carnaval para o início de maio. Há algumas opções fora do eixo Rio-São Paulo, mas em menor número. A maioria da programação está concentrada, contudo, nos quatro dias do feriadão de Tiradentes e nas duas capitais.© MARCELO CHELLO / ESTADÃO – 26/2/2022 Festas de carnaval foram transferidas de fevereiro para abril por causa do avanço da Ômicron e sofreram adaptações no formato
Haverá opções gratuitas, como os festivais marcados para o entorno do Parque do Ibirapuera e no Vale do Anhangabaú, com o Acadêmicos do Baixo Augusta, a cantora Elba Ramalho e outras atrações. Já os pagos têm valores a partir R$ 20, mas que podem passar de R$ 1,1 mil, como no camarote de um festival inspirado no carnaval de Salvador, que contará com Daniela Mercury, Chiclete com Banana, Timbalada e outros no estádio do Corinthians.
No Rio, o clima de carnaval é ainda mais forte. Perfis temáticos em redes sociais têm divulgado programações diárias. De festas gratuitas a festivais e shows, com blocos, baterias de escolas de samba e artistas populares, como Wesley Safadão, Ludmilla, Bell Marques, É o Tchan e outros. Um dos principais eventos terá seis dias de duração.
“Teve Carnaval e vai ter de novo”, resume a descrição da festa marcada pelo Casa Comigo em São Paulo. Para lembrar um pouco do clima da rua, o evento ocorrerá parcialmente em uma área aberta e com trio elétrico, para “ter pelo menos um gostinho de rua”, descreve Raphael Guedes, um dos fundadores do bloco.
Ele conta que o evento começou a ser planejado assim que o carnaval do sambódromo foi transferido, enquanto o de rua seguia cancelado, e reaproveita parte da estrutura originalmente contratada para o desfile de rua, como trio, sistema de som e equipe de produção. “Nossos mestres também são mestres de escola de samba, estamos ligados a esse movimento e faz todo o sentido ter ‘carnaval de rua’ junto com o de avenida.”
Para Guedes, por ser fora de época e fechado, o evento atrairá um público mais local, sem tantos foliões vindos de outras cidades e Estados. Também estará em menor porte, limitado para mil pessoas, bem menos do que os milhares dos desfiles de rua. “Acho que, nesse ano, as caravanas não virão.”
O Minhoqueens também adaptou o formato do festival (de dois dias) para remeter ao desfile de rua, a começar pelo horário de início: 15 horas. “É para oferecer um clima de carnaval de rua, começando debaixo de sol e em espaço aberto”, explica Fernando Magrin, idealizador do bloco. Após as 22 horas, a festividade passa a ser apenas em área coberta.
A possibilidade de Tiradentes ser um segundo carnaval em 2022 é lembrado até no nome do evento, batizado de “Carnavrau em Dobro”. “Querendo ou não, teve carnaval de fevereiro, e foram várias festas. Vários outros blocos tiveram”, avalia Magrin.
Já o Bloco do Síndico fará uma festa de um dia dia e de menor porte. Um dos fundadores, Gustavo Gabas conta que o evento originalmente era um pré-desfile do carnaval de 2022. “Com o aumento de casos (da covid-19), a gente postergou para a frente, sem data definida na época”, explica. “Os fãs perguntavam a todo instante, desde o começo do ano, perguntavam se iria ter festas, e quando seriam.”
Diferentemente de parte das agremiações e foliões, Gabas considera que 2022 será mais um ano sem carnaval. Para ele, a festa marcada pelo bloco para o feriadão é uma celebração para “não passar em branco”, voltada a um público que considera pequeno, de cerca de 250 pessoas.
Além de espaços fechados, dois eventos em áreas públicas têm chamado a atenção em São Paulo. Os próprios organizadores destacam, contudo, que não é um carnaval de rua, mas o mais próximo possível desse formato que um bloco grande (que exige infraestrutura variada de segurança e logística) pode oferecer.
Um deles é o Carnaval Viva a Rua, que terá o bloco Frevo Mulher (da cantora Elba Ramalho), o Monobloco e a Orquestra Voadora, além de convidados, como Margareth Menezes, Chico César e Geraldo Azevedo, com entrada gratuita no entorno do Parque do Ibirapuera, mediante retirada de ingressos online e passaporte da vacina.
“A estrutura é quase igual a qualquer outro carnaval no Ibirapuera”, comenta Rogério Oliveira, diretor da Pipoca, idealizadora do evento. “Será a melhor versão possível (neste ano) do que é o carnaval de rua.”
Ele conta que o evento foi motivado pela vontade de trazer opções gratuitas para a data. “Estava olhando e percebendo que o cenário seria igual ao do fim de fevereiro, só de festas (de carnaval) fechadas, algumas caras, outras nem tanto, com o carnaval no sambódromo acontecendo e, de novo, a rua não podendo ter o seu carnaval.”
Para o evento, ele conta ter entrado com um pedido de evento de rua na Prefeitura, como já havia feito em celebrações de outras temáticas fora do carnaval. A ideia é haver um controle de superlotação, mas que, diante da rotatividade (foliões que permanecem durante parte do evento), chegue a mais de um milhão para dois dias de evento. Por enquanto, “algumas dezenas de milhares” procuraram o site para obter o ingresso.
Já o Acadêmicos do Baixo Augusta fará um festival de um dia no Vale do Anhangabaú, em parceria com a concessionária do espaço, também com a retirada de ingressos gratuitos na internet e cobrança de passaporte da vacina. Ale Natacci, presidente e um dos fundadores do bloco, conta que o evento seria originalmente de pré-carnaval, mas foi transferido por causa do avanço da Ômicron. “Já estava moldado desde novembro.”
“Foi a única maneira que a gente achou para conseguir fazer uma coisa gratuita para a população, de uma maneira controlada”, justifica. “Quando foi anunciado que os desfiles (das escolas de samba) mudariam para Tiradentes, pensamos: ‘Boa data. Fazemos domingo, para não ficar batendo nas datas dos desfiles.”
A expectativa é de cerca de 20 mil pessoas. Em menos de uma semana, 11 mil já se cadastraram no site do evento, segundo Natacci. “No carnaval, as pessoas vêm de outras cidades, estados, o que, nesse período (Tiradentes), não deve acontecer”, justifica. “Quando abriu, teve um crescimento muito rápido.”
Ele destaca ser como um show do bloco, não um carnaval de rua. “É importante frisar que somos um bloco de rua, que gosta de desfile totalmente aberto e gratuito. Infelizmente, a situação da pandemia e o cancelamento do carnaval de rua não deixam fazer isso. A gente tentou fazer de alguma forma e gratuito.”
No evento, serão dois trios parados, com o Baixo Augusta e convidados, como a bateria do Vai-Vai, a cantora Mariana Aydar e o bloco Lua Vai. Terá ainda estrutura de alimentação e venda de bebidas, controle de acesso e banheiros “Praticamente um show privado. Igual um Lollapalooza, um show como outro qualquer. Por nós sermos bloco de carnaval, acaba caindo nessa coisa do carnaval.”
Fonte: Estadão