O penúltimo dia do SPFW no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, nesta sexta-feira (19) provou mais uma vez que a moda brasileira caminha a passos largos para a diversidade de cor, idade, peso e sexo. Com casting repleto de modelos pretos, ainda que falte muito a trilhar, a inserção de pessoas que até pouco tempo se sentia excluída do mundo fashion, seja nas passarelas, seja na direção das grifes, já dá para pelo menos comemorar, no Dia da Consciência Negra, esse avanço.
As inspirações das coleções passeiam pela religiosidade, pela arte e pela valorização das curvas. Teve também trabalho de inclusão, com a abertura da Escola Ponto Firme, que trabalha com presidiários e egressos do sistema penitenciário na confecção de peças de crochê, para reinserção na sociedade. E teve também Sasha um pouco nervosa na passarela. Confira resumo do dia.
Ponto Firme
O Projeto Ponto Firme, que trabalha com crochê feito por presidiários, deu um passo a mais na inserção de egressos do sistema prisional. O desfile marcou a abertura da Escola Ponto Firme, no Centro de São Paulo, ao lado da estação República do Metrô. O estilista e idealizador do projeto, Gustavo Silvestre, contou que a intenção agora é inserir as mulheres egressas das penitenciárias na confecção de peças feitas com a técnica.
Além do clássico bege, as roupas apresentadas ganham cores quentes e trabalhos com desenhos que lembram jacquards feitos à mão. Pontos mais largos ou justos, como se feitos em teares, criam imagens de fim de tarde. Alguns trabalhos lembram rendas delicadas e são inseridos em camisetas amplas, como na foto de abre deste texto. Vestidos, túnicas, bermudas, regatas estão entre os trabalhos mostrados pelo Ponto Firme.
Fernanda Yamamoto
A estilista Fernanda Yamamoto abriu a exposição Yama, no centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, em união com a comunidade autônoma Yuba, criada na década de 1930 por imigrantes japoneses em Mirandópolis, interior do Estado. A estilista já havia trabalhado com eles em outros desfiles.
A equipe de Fernanda pesquisou figurinos dos espetáculos antigos da comunidade e escolheu três quimonos feitos de sacos de algodão para armazenamento de ração de galinhas. Os quimonos eram nas cores rosa, verde e azul. Eles foram ressignificados e apresentados no local, além de outros novos, feitos de organza, seda e morim, tela de algodão usado no ateliê. No final, os “modelos” retiraram as peças e penduraram no espaço da exposição, como obras de arte.
Projeto Sankofa – Santa Resistência
Ao som dos tambores do grupo de percussão Afrodescendentes, projeto social da cidade de São Felix, Mônica Sampaio, da grife Santa Resistência, levou 17 looks femininos à passarela que seguem o DNA da marca. A estilista se inspirou nos saberes e na história das mulheres do Recôncavo para falar de mulheres guerreiras que, por dois séculos, mantêm a fé e a força. “Mulheres pretas, que amam, trabalham, resistem e encantam”, afirmou o material de divulgação.
O resultado da apresentação foi um mix de cores fortes, degradês que reproduzem o pôr-do-sol, verdes, azul-royal e laranja, chegando ao final com o amarelo sendo diluído até chegar ao branco. Tudo impregnado com religiosidade e saberes das mulheres da região onde a estilista nasceu.]
Projeto Sankofa – Naya Violeta
Primeira estilista de Goiás a desfilar no SPFW, Naya Violeta também impregnou de religiosidade e cores sua coleção, que veste homens e mulheres, de todas a silhuetas, pesos e alturas: “Encante – do Amém ao Axé”, numa leitura moderna do country. Para isso, apostou em estamparia vibrante em cores e volumes em peças confortáveis e despojadas.
Ão
A coleção Curves, apresentada pela Ão, fez no desfile digital combinações que parecem improváveis como o uso de corset – bem colorido, com estímulos visuais – com modelagem esportiva, alfaiataria, babados, compostos com tecido de algodão, seda e poliéster. As peças, como diz a proposta, são plurais e acentuam as curvas do corpo, algumas com modelagens parecem revisitar roupas de época.
Led
Peças neon, uso de crochê – misturado com tecidos naturais como algodão, seda e viscose -, listras e estampas geométricas apareceram no desfile De Volta para Casa, da marca mineira Led. “Trabalhar a preciosidade do crochê e de bordados é um resgate da identidade da moda brasileira. A coleção resgata a mineiridade, com o toque subversivo da LED”, conta o designer da marca Célio Dias.
Ele abusou das cores vibrantes, mas sem esquecer das neutras, principalmente nas blusas, e sugeriu peças versáteis e confortáveis, ótimas para o lifestyle do brasileiro. Os acessórios também apareceram, em formato de joias, bolsas e cintos, assinados pela designer Priscila Gouthier, que agora, oficialmente, faz parte da equipe da LED.
Neriage
Uma das tendências propostas pelos estilistas da São Paulo Fashion Week é leveza em looks confortáveis. Isso, porém, não significa apenas peças esportivas e despojadas. A Neriage, que tem como diretora criativa Rafaella Caniello provou isso com uma coleção que mistura pesos, que traz plissados, com uma pitada de poesia e arte.
Cores contrastantes, como cinza e amarelo ou vermelho e bege se misturavam a areia, off-white e rosé em looks monocromáticos. Os plissados, ponto forte da marca, não faltaram, ao lado de materiais pesados, como tricôs ou lã lisa.
Tudo feito com corte perfeito de alta alfaiataria. Assimetria em sobreposições, moletom com tule e peças estampadas, com desenhos de Martha Barros, filha do poeta brasileiro Manoel de Barros (1916-2014), também pontuaram o desfile. Destaque para um acessório que promete ser tendência na próxima estação: as luvas.
Em uma cena urbana – modelos iniciam o desfile andando de bicicleta -, com o tema Futurismo Ancestral, Gloria Coelho mostrou muitas peças símbolos do esporte (moletons, saias de cintura alta), outras inspiradas no filme Cruella, looks grunge, rock n´roll e punk. Também usou tecidos cortados em forma geométrica – parecendo metal -, veludo de algodão, tecidos tecnológicos, viscose e couro mestiço, além de brilho, com paetês.
Misci
Com Xuxa, Luciano Szafir e o marido João Figueiredo na plateia, Sasha desfilou para a grife Misci na tarde desta sexta-feira (19) no São Paulo Fashion Week. A modelo fez duas entradas com loosk marrons, abrindo e fechando o desfile do estilista Airon Martin, que fez sua estreia presencial no SPFW após duas apresentações virtuais.
Sasha abriu o desfile com um top tipo biquíni, com detalhe dourado, calça com sobressaia por cima, brincos longos e sandália azul. O look final foi um vestido longo de mangas compridas, maxidecote nas costas e sandália vermelha.
A coleção, chamada “Fuxico Lanches”, mostrou marrom, vermelho, azul, branco, bege, terrosos, verdes-claros darem espaço a peças leves, algumas deixando a pele aparecer, em tops, vestidos, bermudas e saias curtas. Sem exagero de tecidos, as roupas da Misci são frescas e leves, numa alfaiataria informal. Na passarela, cadeiras de plástico empilhadas e uma mesa de bilhar coberta por um véu e um vestido pendurado servia de cenários para modelos de vários gêneros e corpos.
Martins
No desfile da Martins, o folclore brasileiro foi protagonista. Seja nas estampas das peças – jacquard floral -, dos lenços, ou nas cores fortes, tudo remeteu a personagens como iara, saci-pererê, mula sem cabeça (em casacos do que vão até o pé) e boitatá.
As golas dos casacos ganhara pelúcia, os brincos são de miçanga e os lenços na cabeça, moda lançada no último BBB (Big Brother Brasil), foram usados como forma de compor os looks.
Igor Dadona
O estilista Igor Dadona mostrou na sua coleção a paixão que tem pelo ofício. E isso ficou impresso no nome: Loveur, amante em francês. E as peças transpiram este sentimento: uma adornada por uma flor preta, outra com tules românticos, casacos de lãs que acalentam. O preto e branco aparece tanto na combinação das peças (short e camisa), quanto no quadriculado dos casacos e blusas. A ideia é ousar e viver todo sentimento.
“A coleção pode parecer sombria de certo modo, mas ela aponta para uma felicidade e alívio que eu sei que virá, e eu luto por isso, daí os contrastes de cores, tecidos e formas. Eu ainda não estou livre, mas este dia está perto, eu sei”, explica Dadona.
A marca Handred de André Namitala, fez um desfile totalmente branco, por vezes puro, por vezes mais oxidado ou queimado, tendo como ponto decorativa a obra do escultor pernambucano Francisco Brennand.
A escolha da cor tem um motivo: o tom do esmalte dado antes da primeira queima da argila que vira cerâmica. O resultado foi traduzido em peças de seda e linho, que recebem bordados, como o ponto labirinto, com fio desfiado. Leves, alguns com renda rechilieu, os looks recebem detalhes de cerâmicas como enfeites. Um delicado convite à elegância sútil de se vestir. Uma linda e delicada coleção, que teve com trilha sonora, ao vivo, a cirandeira Lia de Itamaracá.
Irrita
Com macacão echarpe, vestido alça, saia cigana, macacão frente única e regata indiana, a marca Irrita, de Rita Comparato, mostrou uma coleção inspirada no abraço. Por isso, a modelagem abraça o corpo ao mesmo tempo que deixa fluir os movimentos, com resultados simples, equilibrando proporções e pesos.
No vídeo, com direção criativa de Dudu Bertholini, os bailarinos Carolina Martinelli, Leonardo Silveira, Naiane Rosa e Marisa Bucoff, celebram os encaixes, a construção do coletivo, em looks estampados e cheios de bossa.
Lino Villaventura
As tramas, a arquitetura das roupa, os franzidos, plissados e estrutrurados mantêm-se firmes e fortes no trabakho artesanal e artístico de Lino Villaventura, que apresentou uma coleção estampada, com vários tingimentos em tie-dye.
Fonte: Elas no tapete vermelho