Neste e no próximo final de semana, festival com programação online e presencial gratuita reforça a representatividade de mulheres na arte e cultura; confira a programação
A 29ª edição do Samba das Mulheres acontece neste final de semana (dias 11 e 12) e no próximo (dias 18 e 19), tem protagonismo de mulheres na cultura, representatividade, muita música e a formação de uma grande roda online. Segundo festival realizado pelo grupo Dona da Rua, o evento tem o apoio da Prefeitura de Mogi das Cruzes através do Programa de Fomento à Cultura de Mogi das Cruzes (Profac) e inclui ainda debates e outras atividades. A programação é gratuita e acontece tanto online como presencial. As transmissões serão feitas pelo YouTube.
Sem limite de público e com tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras), serão dois pocket shows gravados por dois grupos de samba femininos que nasceram no Samba das Mulheres. O primeiro deles, às 21 horas deste sábado (11), será protagonizado pela formação ‘Samba M’, que busca evidenciar “o protagonismo da mulher negra no samba mogiano”.
Com artistas atuantes na comunidade de Samba do Bairro de Brás Cubas (Elci Souza – voz e percussão; Raquel Ribeiro – voz e pandeiro; e Vitória Moura – percussão e voz), o grupo fará uma animada apresentação regada à samba rock e outros estilos.
A próxima atração, às 15 horas deste domingo (12), será uma oficina sobre o Plano Municipal de Cultura, voltada para formação das mulheres artistas da cidade.
Quem apresentará esta atividade será a arte-educadora e co-fundadora da companhia Clara Trupi de Ovos y Assovios, Thalita Benigno. O objetivo da ação, com classificação indicativa livre, é “oferecer subsídio formativo para a população em geral com enfoque no grupo social a que pertence a maioria das integrantes do projeto”.
Ao longo da oficina, que também terá tradução em Libras, os participantes entenderão o que é e qual a função do Plano Municipal de Cultura; como as mulheres são contempladas neste documento e como ele pode ser um instrumento de fortalecimento da representatividade de mulheres. Também será abordado o Programa Diálogo Aberto e a importância da participação da sociedade civil na construção e implementação de Políticas Públicas Culturais em Mogi das Cruzes.
Já o próximo final de semana começa com o segundo pocket show, – no próximo sábado, dia 18, às 20 horas – comandadopelo grupo Dona da Rua. As artistas Helô Ferreira, Juliana Rodrigues e Lívia Barros interpretarão canções originais com temas da militância feminista e negra na música. Em letras como ‘Que Venha em Mim’, ‘Filha da Luta’ e ‘Justiça’ elas buscam trazer reflexões acerca das múltiplas opressões vividas por mulheres.
E a maior das ações acontecerá no domingo dia 19, às 14 horas. Será formada a “Grande Roda Mari Mendes Presente” de “samba, literatura e debate”. O nome desta ação é uma femenagem à Mari Mendes, professora da rede pública, militante e feminista que faleceu após sofrer um mal súbito no último mês de novembro, aos 41 anos. Ela, que agora deixa saudades, participaria do evento.
Presencialmente, na Casa do Jequitibá, que fica em frente ao Largo Bom Jesus, no Centro da cidade, as integrantes do projeto se revezarão, dialogando sobre suas vivências e mostrando sua arte.
Além dos debates, a agenda contará com números musicais de participantes do projeto, leitura de poemas e outras produções literárias de mulheres e pessoas LGBTQIA+, bem como debates sobre gênero, negritude, cultura popular, intolerância religiosa e políticas públicas voltadas para a juventude.
“O samba historicamente é lugar simbólico onde o povo negro se viu representado em suas lutas. Nas rodas de samba de bairro, nas comunidades, nos terreiros, temas caros para o povo negro sempre foram abordados, tanto nas canções quanto no exercício de construção de identidades”, afirmam as organizadoras, em defesa de uma produção cultural como essa, possibilitada pelo Profac.
Sendo assim, a “Grande Roda” pretende convidar mulheres em diferentes áreas de atuação que possam, “além de cantar, tocar ou ler poemas, também falar sobre pautas como LGBTQI+fobia, direitos das mulheres, discriminação de gênero, discriminação racial, educação antirracista, religiões afrodescendentes e manifestações afrodiaspóricas da cidade”.
Já estão confirmadas as participações de Vitoria Moura, Juliana Rodrigues, Bruna Oliveira, Lívia Barros, Regiane Pomares, Raquel Ribeiro, Fabi Ribeiro, Mestra Laine, Bruna Moura, Marcia Cunha, Kony Lee e Helô Ferreira.
Entre os temas abordados nestas conversas estarão juventude, gênero, sexualidade, negritude, representatividade LGBQIA+ na roda de samba, periferia, intolerância religiosa e educação.
A ideia é revelar a potência da roda Samba das Mulheres, assim como acontecia presencialmente na Associação Cultural Casarão da Mariquinha e em outros endereços (leia mais abaixo).
Mais informações sobre a 29ª edição do Samba das Mulheres estão disponíveis no Instagram @sambadasmulheres e também nas redes sociais do grupo @donadaruaoficial.
Agenda
Sábado (11/12) – 21 horas – Pocket Show Samba M
Domingo (12/12) – 15 horas – Oficina Thalina Benigno
Sábado (18/12) – 20 horas – Pocket Show Dona da Rua
Domingo (19/12) – 14 horas – Grande roda – Samba e Conversa (presencial – Casa do Jequitibá – rua Barão de Jaceguai, 914, em frente ao Largo Bom Jesus)
Histórico
Foi o “desejo de ver e ouvir mulheres ocupando lugares físicos e simbólicos da cidade”, como as tradicionais – e majoritariamente masculinas – rodas de samba, que deu luz ao Samba das Mulheres, há seis anos.
Em 2015, portanto, foi formada a primeira roda do Samba das Mulheres, com participação de Seu Eurico (mestre mogiano do choro) e Jorge Liberato. Depois disso, entre março de 2017 e dezembro de 2020 foram realizadas 28 edições do encontro musical com organização da cantora e compositora Lívia Barros e claro, com a parceria de muitas mulheres e homens ao longo dos anos. Recentemente, o projeto ganhou novo formato e passou a ser um festival, o que se repete agora em 2021.
A principal característica de todos estes encontros foi a diversidade cultural, social e racial. Mas as organizadoras lembram que, apesar disso, as ações pensadas pelo projeto não se limitavam apenas a um discurso de tolerância, e sim à prática efetiva de ações de representatividade que incluíam diversas linguagens e debates para além da música.
Seja nos inúmeros eventos realizados no saudoso Casarão da Mariquinha (espaço cultural que fechou as portas em 2019), ou nas atividades mais recentes, estas características nunca foram deixadas de lado. Exemplo disso é o edital nº 019/2020 da Prefeitura de Mogi das Cruzes, que premiou diversos projetos culturais. Entre eles, o primeiro festival Samba das Mulheres.
Naquele momento, a contrapartida foi a realização da 28ª edição do evento, repleto de novidades. Compositoras, cantoras e instrumentistas de Mogi marcaram presença em entrevistas, bate-papos e números musicais realizados de forma remota. Os encontros abordaram a vida e obra de cinco mulheres representativas do samba: Leci Brandão, Alcione, Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Elza Soares.
Em 2020, devido a pandemia de Covid-19, toda a programação foi digital. O aprendizado do ano passado se repete agora, em 2021, quando, um ano depois, a 29ª edição do evento será ainda maior e mais abrangente, com atrações online e presenciais.