O mundo atual não obriga mais que as empresas sejam unidades coletivas. Os solopreneurs, ou empreendedores solo, são uma tendência crescente nos últimos anos, mas alguns fatores — a computação em nuvem, o crescente desemprego, a insatisfação de ser funcionário e a pandemia de COVID — tem acelerado isso. Os dados brasileiros sobre o assunto estão desatualizados, mas a impressão geral é que cada vez mais pessoas tentam não apenas ser o chefe de si mesmo, mas também ser a equipe completa.
Um levantamento de 2019 da Global Entrepreneurship Monitor, feito com dados de 49 países, disse que mais da metade dos empresários brasileiros (53%) são voos solo. Já outro estudo do DataSebrae do mesmo ano trouxe um índice bem maior: 85%, em um universo de mais de 24,9 milhões de empresários. Com o desemprego cada vez mais presente no país, com apenas 48,8% de sua população em idade de trabalhar ocupada em 2020, empreender sozinho tornou-se mais uma necessidade do que uma opção.
O que é um solopreneur?
É um profissional que tenta começar um negócio sozinho e não pretende contratar funcionários a médio ou longo prazo. “Chamamos isso de ‘euquipe’”, brinca Eder Max, consultor de negócios do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Se você achou esse conceito muito parecido com o de um MEI (microempreendedor individual), uma ME (microempresa) ou com o de um autônomo, é compreensível; afinal, as diferenças são mínimas
Um solopreneur pode optar por se encaixar tributariamente tanto na categoria MEI quanto na ME. Mas enquanto o primeiro tem um limite de receita anual de R$ 81 mil, o segundo pode ganhar mais: até R$ 360 mil. Essas categorias permitem por lei a contratação de funcionários; o MEI pode ter apenas um que receba o salário mínimo ou o piso da categoria, e a ME pode ter uma equipe. Mas claro: se o empreendedor optar por contratações, deixará de ser um solopreneur.
Já os profissionais autônomos donos de pessoa jurídica também são, em essência, empreendedores solo, mas geralmente atuam como prestadores de serviços. Mas há empresários solitários que vendem produtos também.
Ok, e as startups? Segundo Bruno Rondani, CEO e fundador da plataforma de inovação aberta 100 Open Startups, esse tipo de empreendimento por definição pressupõe a existência de equipes. “Um microempreendedor que cresce muito pode passar a operar como empresa. Para ganhar escala no negócio, vai precisar de sócios. Mas existe muitos autonômos que podem participar de startups”, diz. No entanto, Max alerta: “Muitas companhias têm usado MEIs para serem funcionários, o que é proibido por lei, com exceção dos prestadores de construção civil.”
O que caracteriza um solopreneur?
Em resumo, ele precisa ser bom nas três frentes de um negócio de sucesso: operacional (saber controlar todos os fluxos), gerencial (ter cabeça de gestor) e comportamental (atitude para persistir no negócio). Segundo o Sebrae, os 10 mandamentos de um empreendedor solo são:
- Ter iniciativa e buscar oportunidades
- Ser persistente
- Saber calcular os riscos
- Exigir uma qualidade do seu serviço ou produto
- Ser comprometido
- Estudar muito
- Estabelecer metas
- Criar sistemas de monitoramento
- Ter ampla rede de contatos
- Ter autoconfiança
No Brasil, muitos começam nessa área por necessidade e sem planejamento ou capital prévio. Assim, acabam se frustrando com a vida de empresário solitário. São comuns os casos de excesso de trabalho por acúmulo de funções ou problemas de gestão dos negócios. Outros dominam bem a parte técnica do negócio, mas não a administrativa, e vice-versa.
Com o devido preparo, porém, entrar nessa vida pode trazer bons frutos, como a liberdade de ser seu próprio chefe e a autonomia de decisões. “Eles (o solopreneur) têm uma natureza muito independente, mas nem todo proprietário de empresa é empreendedor. Cerca de 12 milhões dos 19 milhões de CNPJ são MEIs. Estatisticamente falando, a maioria deles são solo por falta de infraestrutura no negócio”, diz o gerente nacional de Atendimento ao Cliente do Sebrae, Enio Pinto.
Essa atividade costuma ter vida curta em muitos casos por um motivo simples: quando o negócio comeca a engrenar, o empreendedor vê a necessidade de contratar mais gente para seguir em frente. As exceções a isso são os profissionais liberais, como professores de idiomas, fotógrafos, pintores, eletricistas etc. que em boas condições ganham o dinheiro necessário tanto para viver quanto para manter a atividade, sem precisar de mais profissionais ajudando.
O papel da tecnologia no solopreneur
Um fator importante neste cenário é que mais pessoas hoje trabalham sem precisar de grandes escritórios, equipamentos ou estruturas físicas. Podem fazer tudo remotamente e no seu devido tempo, como é o caso dos nômades digitais.
Sendo assim, a tecnologia atual permite a existência de diversos tipos de solopreneurs, como:
- Pequena loja online, via marketplaces
- Consultor via vídeoconferência
- Criador de cursos online
- Proprietário de casas no Airbnb
- Agência de design para páginas web
- Youtuber
- Personal trainer
- Redator
- Podcaster
- Desenvolvedor de aplicativos
- Editor de vídeo
Quase todas as profissões acima requerem alguns equipamentos individuais, um bom notebook e acesso à internet. Mas sem todos os requisitos profissionais, o empreendedor pode se dar mal. “É preciso montar um modelo de negócios e calcular todos os cenários”, sugere Eder Max, do Sebrae-SP.
Fonte: canaltech.com.br